Tenho uma admiração por Belchior, especialmente pela forma como ele traduz os paradoxos da vida em suas letras. Por isso, com o máximo respeito, peço licença para citá-lo: “O passado é uma roupa que não nos serve mais.” Essa frase, tão impactante, parece se aplicar perfeitamente ao mais novo integrante do Time de Lula; Ítalo Ferreira.
Por motivos pessoais, acredito que é melhor ser uma metamorfose ambulante do que carregar aquela velha opinião formada sobre tudo. E, nesse ponto, Ítalo Ferreira nos dá uma lição de reinvenção. Durante o período eleitoral, se destacou com uma campanha carregada de ataques a ex-prefeita Suzana Ramos e buscou apoio de figuras exóticas do Bolsonarismo, como Nikolas Ferreira, Capitão Alden e, claro, Jair Messias Bolsonaro. Foi quase emocionante testemunhar o encontro do criador com a criatura: Ítalo claramente utilizou Bolsonaro como trampolim para alcançar seus 976 votos.
Agora, como coordenador da Defesa Civil no governo Andrei, Ítalo transcendeu os valores que antes defendia com fervor. No entanto, essa ascensão não apaga o fato de que ele chegou lá impulsionado por uma campanha baseada no tripé bolsonarista: Deus, Pátria e Família.
Mas o que há de errado nisso?
Nada. Absolutamente nada. Apenas evidencia a volatilidade ideológica de Ítalo. Ele não apenas se reinventou; ele sentou à mesa do governo e jogou suas cartas.
Imagino o diálogo entre ele e Andrei sendo algo como:
– “Andrei, tenho 976 votos e quero estar do seu lado.”
E Andrei, com pulgas atrás da orelha, teria respondido:
– “Mas esses votos estarão comigo e com Jerônimo em 2026?”
Talvez essa tenha sido a pergunta que encerrou a reunião. Afinal, no jogo político, tudo se transforma, e as metamorfoses de Ítalo Ferreira nos ensinam que, na política, a coerência muitas vezes fica em segundo plano.
