O casal Irineu Cruz e Jucicleide Silva, do município baiano de Conceição do Coité, a cerca de 200 quilômetros de Salvador, protagonizou uma das histórias mais curiosas em 10 anos de G1 Bahia.
Em outubro de 2018, eles eram pais de 13 filhos com nomes iniciados com a letra “R”. A ideia era sempre homenagear algum jogador de futebol que ainda estivesse jogando ou que já tivesse pendurado as chuteiras. A novidade agora é que a família cresceu e a mamãe não é mais a única do sexo feminino.
Na última atualização, a família ainda decidia o nome do 14º bebê, que estava na barriga de Juci, como a chefe da família é conhecida. Em janeiro de 2019, nasceu Rodrigo.
Foi em setembro do ano passado que a baiana realizou o tão sonhado desejo. Depois de dar à luz a 14 meninos, enfim nasceu Raiane Maiara. A chegada da menina foi motivo de alegria para o casal e os 14 irmãos.
“Eu falei que se fosse menino, eu ia ser muito feliz. Quando fiz a ultrassom, que deu menina, aí fiquei mais feliz ainda, porque menino já tive 14 e com a vinda de uma menina minha felicidade completou”, disse a dona de casa Jucicleide, de 39 anos.
“Veio uma menina e é a alegria da casa. A gente já era alegre e somos mais alegres por termos os 14 homens e a menina”, contou Irineu Cruz, conhecido como Chitão, que tem 44 anos.
O nascimento de Raiane também quebrou um protocolo que acontecia sempre após a chegada de um novo integrante na família. Dessa vez, quem escolheu o nome do bebê foi a mãe, já que o casal tinha um acordo para que toda vez que tivesse um filho homem, o marido fosse responsável pela escolha do nome.
“Raiane Maiara. Promessa tem que ser cumprida. Os homens eu que colocava [o nome] e menina era ela, então foi ela que escolheu. Ela botou com ‘R’ também para acompanhar o lote, que são todos com ‘R’ e graças a Deus ela escolheu com ‘R’. A alegria do Brasil e do mundo”, disse o baiano.
Agora, Raiane e Rodrigo se juntam aos irmãos Ronaldo, Robson, Reinan, Rauan, Rubens, Rivaldo, Ruan, Ramon, Rincon, Riquelme, Ramires, Railson e Rafael. A quantidade de filhos do casal daria para montar um time de futebol com reservas.
Após o parto de Raiane, que foi cesárea, Jucicleide optou por fazer o processo de ligação das trompas.
Irineu Cruz e Jucicleide Silva sempre se esforçaram para que todos os filhos não ficassem sem ter o que comer. A família vivia dos “bicos” que o pai conseguia para ganhar dinheiro e também do Bolsa Família que a esposa, que é dona de casa, recebe mensalmente.
“Eu sei que aqui é luta, muita luta para a gente manter essas crianças com café da manhã, merenda, almoço e tudo mais. Sobre o colégio, eles estão estudando pelo celular. Se tiver com esse problema [pandemia], a gente já cancela as idas deles [para aulas presenciais], porque esse problema é gravíssimo e a gente não pode soltar os meninos para isso”, disse Irineu Cruz.
A realidade mudou e as dificuldades aumentaram com a pandemia do novo coronavírus. Com a necessidade de obedecer ao isolamento social, Chitão decidiu não deixar mais as crianças saírem de casa.
“A gente vem sofrendo um combate geral com essa pandemia da Covid-19. Presos, trancados, não sai ninguém”, disse.
A família também passa por apertos financeiros. A saída encontrada por Irineu foi trabalhar com reciclagem e vender ossos de animais para pagar as contas.
“Eu estou vivendo de catar papelão, ossos, ferro velho, na base da reciclagem. A gente está sobrevivendo disso aí agora”, contou.
Ao todo, Irineu e Jucicleide moram com 12 filhos. Os três mais velhos já casaram e não moram mais com a família.
Eles também contam com a ajuda do casal de amigos, Rubinho e a esposa Maiara, além de açougueiros da região.
“Rubinho ajuda a gente bastante, se não fosse ele, o que seria da gente? A gente também agradece a todos os açougueiros que estão doando ossos para a gente vender e fazer nossa feira”.
Sem auxílio emergencial
Irineu revelou que não recebeu nenhuma parcela do auxílio emergencial durante a pandemia. Ele não sabe dizer o motivo de não ter sido beneficiado.
“Nós não recebemos nenhum auxílio que o governo deu. Complicou o barco e nós estamos pedindo força e coragem a Deus para manter a batalha nessa linha”.
“O auxílio mesmo, eu não sei porque, a gente correu atrás, procuramos até um advogado e não sei porque a gente tem 15 filhos e não teve o auxílio. É brincadeira um negócio desses? Eu achei um absurdo, não sei que castigo foi esse que deram na gente”, lamentou.
O baiano afirma que a família recebeu cestas básicas no início da pandemia, benefício conseguido porque os filhos estudavam.
“Nós não recebemos nada. Só umas cestas básicas que chegaram do colégio, porque os meninos tiveram as aulas canceladas”.
“Graças a Deus está tudo em ordem, é chamar por Deus agora, que ele dê vida e saúde para eu trabalhar, estar na luta para criar eles. Peço muita força e coragem para eu manter o trabalho e que nunca falte o pão de cada dia”, concluiu.
Fonte: G1