A história de ascensão e queda no padrão de vida do professor Guilherme Moraes, de 33 anos, revela como a crise econômica abala educadores — mas também pais e alunos no Brasil.
Professor de história bem-sucedido na rede privada, Moraes percebeu uma queda expressiva no número de alunos em sala de aula desde 2019.
“Eu cheguei a dar aula para 14 turmas em 2019”, conta o professor. “Depois caiu para 5.”
E menos alunos significam menos turmas para professores de escolas particulares, cujo salário no fim do mês depende do número de horas em sala de aula.
“Muita gente não conseguiu manter os filhos na rede privada e a carga horaria diminuiu. O nosso salário também diminuiu”, ele continua.
E dados oficiais confirmam a impressão de Moraes sobre o esvaziamento de colégios privados: segundo o Censo Escolar 2021, o número de estudantes matriculados em escolas particulares no Brasil caiu 10%, ou quase um milhão de estudantes, entre 2019 e 2021.
Êxodo de escolas privadas
A surpreendente queda interrompeu uma sequência histórica de crescimento no número de alunos em colégios privados.
No mesmo período, 2019 a 2021, a rede pública teve redução bem menor no número de alunos: 0,5%.
“O empobrecimento das famílias, principalmente neste caso o da classe média, impacta diretamente nos diversos tipos de serviço, e no serviço de educação isso é bastante significativo”, avalia Fausto Augusto Junior, diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Para o especialista, os números do censo escolar sugerem uma transferência de estudantes entre as redes particular e pública — resultado da crise econômica (aumento de mensalidades e do custo de vida em geral) e agravada pela pandemia.
“A classe média está sendo bastante atingida por conta da inflação e da taxa de desemprego, o que tem a ver com essa saída de alunos da rede privada para a rede pública. Isso tem a ver com empobrecimento”, diz.
É o caso de Lidiane Rosa, do Rio Grande do Sul.
“Eu tirei a minha filha da escola privada causa dos custos, estava muito caro e não tinha mais como bancar escola particular. Ela estava no primeiro ano do ensino fundamental e eu tinha que comprar muitos livros”, ela diz à BBC News Brasil.
A economia no caso de Rosa foi além do ensino. “Na escola pública, ela aprendeu muito mais. Na escola particular, eles não tinham nenhuma refeição. Na pública, eles almoçam e tomam café da tarde.”
BBC Brasil