POR DANY SANTOS
Eu não quero aula online para os meus filhos enquanto enfrentamos uma pandemia mundial. Eu quero que eles fiquem seguros em casa sem mais uma preocupação de precisar entregar mil tarefas. Eu não me importo se eles vão terminar o Ensino Médio aos 17 ou aos 18. Lá na frente, isso não vai fazer a menor diferença. Saúde mental e emocional importam mais que conteudismo.
Aceito, com carinho, sugestões de links pra visitar museus e vídeos de desenhos educativos. Nem precisaria, mas entendo que escolas particulares precisam manter esse vínculo para justificar o pagamento das mensalidades.
Eu não quero que os professores dos meus filhos se tornem, de um dia pro outro, sem treinamento, youtubers que fazem vídeos de qualidade duvidosa. Esses profissionais merecem respeito. Não desejo que eles tenham suas imagens expostas, sejam cobrados por algo que não foram contratados pra fazer e fiquem sobrecarregados com gravação, edição e tudo mais que envolve fazer vídeos.
Eu não quero que minha família tenha mais uma preocupação além de passar o dia cozinhando, limpando, desinfetando a casa e passando álcool em sacola de mercado. Estamos em modo de sobrevivência. Existe uma diferença entre ajudar a fazer um dever de casa e passar três horas por dia sendo responsável por uma obrigação que é da escola e que ela não está conseguindo cumprir, por motivos óbvios. Por mais que você faça um vídeo mirabolante, isso não se chama Educação.
Eu não quero que meus filhos estejam à frente do aluno da escola pública porque, aqui, tem computador pra todo mundo e espaço para eles estudarem. Se todas as crianças não conseguem acompanhar aulas online por falta de recursos, eu não quero que meus filhos tenham essa “vantagem” porque a gente pode pagar. A pandemia não pode ser mais um motivo para aumentar o abismo social.
Eu quero que a escola se reinvente e se reinventar não significa transformar professor em youtuber, mas aprender a abrir mão do conteudismo, entender que aprendizagem vai além do que é dado pela escola e aceitar que o ano letivo já não cabe mais em 2020.
O contrário disso é só fingimento. A escola finge que está cumprindo seu papel e os alunos fingem que estão aprendendo. Uma hipocrisia à distância.
Fonte: Revista Bula