BRASIL

Jackson do Pandeiro: um Paraíba que domou o ritmo do Brasil

Em meio as declarações preconceituosas do presidente da república ao se referir aos nordestinos como “paraíbas”, está o desconhecimento e o valor de um povo e região que produz de tudo, inclusive muita cultura.

Nomes como Luiz Gonzaga, Cecilia Meireles, Zabé da Loca; Castro Alves; Patativa do Assaré; Rachel de Queiroz; Jorge Amado, Caetano Veloso; Gilberto Gil; Chico Science; Alceu Valença; Elba Ramalho… e também alguns Josés.

Como tem Zé na Paraíba! A constatação foi feita por José Gomes Filho (31 de agosto de 1919 – 10 de julho de 1982) no lúdico tom forrozeiro da gravação original da música dos compositores Manezinho Araújo e Catulo de Paula.

Quando lançou a composição Como tem Zé na Paraíba em disco de 1962, esse José de Alagoa Grande (PB) já nem era mais Zé. Era Jackson do Pandeiro, o fabuloso cantor, compositor e ritmista paraibano que galgara os degraus da fama com a velocidade de um rojão em 1953 ao convidar a comadre Sebastiana para cantar e xaxar na Paraíba.

Naquela altura, Jackson já estava na cidade do Rio de Janeiro (RJ), plataforma para o salto nacional deste artista único nascido há 100 anos. Neste sábado, 31 de agosto de 2019, o Brasil faz festa para um rei negro do ritmo.

O centenário de nascimento do intérprete original do coco Sebastiana (Rosil Cavalcanti, 1953) motiva homenagens por todo o Brasil, relançamentos de discos em edições digitais e constatações da importância do legado do artista.

Mas talvez o maior tributo que se possa prestar a Jackson do Pandeiro seja reverenciá-lo sempre, em qualquer ano e época, pela maestria com que cantou cocos, xaxados, sambas, rojões, emboladas, baiões e frevos com divisão esperta, inimitável. E também pela destreza no toque do pandeiro, instrumento incorporado ao nome artístico após incursões juvenis pela zabumba e pela bateria.

Jackson do Pandeiro deixa obra fundamental, concentrada em discos dos anos 1950 e 1960 — Foto: Reprodução / Capa do álbum 'Nossas raízes'Jackson do Pandeiro deixa obra fundamental, concentrada em discos dos anos 1950 e 1960 — Foto: Reprodução / Capa do álbum 'Nossas raízes'

Jackson do Pandeiro deixa obra fundamental, concentrada em discos dos anos 1950 e 1960 — Foto: Reprodução / Capa do álbum ‘Nossas raízes’

Jackson do Pandeiro foi grande! Concentrada nos anos 1950 e 1960, a obra do Rei do ritmo talvez não tenha a dimensão sociológica do cancioneiro de outro monarca da nação nordestina, Luiz Gonzaga (1912 – 1989), mas também é fundamental para o Brasil.

De todo modo, o canto e a musicalidade serelepe de Jackson do Pandeiro quase sempre sobressaíram em relação ao (bom) repertório do artista. Esse Zé da Paraíba tinha no canto, e no toque do pandeiro, a dança diferente que ele próprio notara, surpreso, na comadre Sebastiana ao convidá-la para xaxar.

Com essa dança diferente, Jackson do Pandeiro domava o ritmo e caía em um suingue que era somente dele. Jackson quebrava tudo, adiantando e atrasando o tempo, mas sempre chegando junto. Foi como se ele fosse um João Gilberto (1931 – 2019) do universo nordestino, embora a bossa apresentada pelo baiano em 1958 tenha sido realmente nova e, a rigor, nada influenciada pela bossa de Jackson.

Rei do ritmo cantou e gravou muito samba, embora seja primordialmente associado ao universo rítmico do forró. Sem fronteiras, Jackson do Pandeiro deixou influências que ressoam em todo o Brasil, podendo ser detectadas nas discografias de Gilberto Gil e do discípulo Lenine, para citar somente dois exemplos de artistas de gerações distintas que celebram esse colega nobre que somente foi aprender a ler após os 35 anos, muito tempo depois de ter aprendido a cantar coco com a mãe cantadora.

Pode ter muito Zé na Paraiba, mas teve somente um Jackson do Pandeiro, centenário e imortal Rei do ritmo.

Fonte: G1

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