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‘Fiquem em casa’: o desabafo de médica que tratou 1º paciente morto pelo novo coronavírus no Brasil

A infectologista Carla Guerra faz um apelo. “Estamos muito preocupados. Reforcem as medidas de proteção e se cuidem”, diz em tom de desabafo, durante entrevista à BBC News Brasil, no início da tarde desta terça-feira (17/03).

O pedido é feito pela profissional após acompanhar o caso do primeiro brasileiro que teve a morte confirmada em razão do novo coronavírus.

O paciente de 62 anos, que não teve a identidade divulgada, tinha diabetes e hipertensão. Ele começou a sentir os sintomas da covid-19, doença causada pelo vírus, em 10 de março. O homem procurou atendimento médico, os sintomas pioraram e ele morreu dias depois, na segunda-feira (16).

Ele não tinha histórico recente de viagem ao exterior e não teve contato com nenhum paciente doente. Desta forma, o caso dele é considerado transmissão comunitária — quando não se sabe a origem do vírus.

O homem morava na capital paulista. São Paulo é o Estado que tem com mais registros do novo coronavírus no Brasil, até esta segunda-feira eram 152 confirmados — em todo o país são 291.

Ele estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Sancta Maggiore, no bairro do Paraíso. Na mesma unidade, segundo a Secretaria de Saúde de São Paulo, há outras quatro mortes de idosos suspeitas de coronavírus — os exames ainda não foram concluídos.

“Apesar de não termos o resultado antes, considerávamos o caso desse primeiro paciente suspeito para o novo coronavírus desde que ele deu entrada no hospital”, explica Guerra, que acompanhou o paciente desde a chegada dele na unidade de saúde.

O homem era considerado caso suspeito para novo coronavírus por apresentar sintomas como febre alta, tosse e problemas respiratórios. O resultado que confirmou a covid-19 foi dado horas após a morte dele.

‘Fiquem em casa’

Desde o primeiro atendimento, segundo Guerra, toda a equipe médica que acompanhou o paciente adotou os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) orientados pelo Ministério da Saúde: gorro, máscara N95, luvas, aventais descartáveis e óculos protetores.

Ele chegou com sintomas considerados leves. Mas logo se agravaram e foi encaminhado para a UTI.

As doenças que ele já possuía colaboraram para agravar o estado de saúde dele e levá-lo à morte. Os parentes dele, ao menos até o momento, não apresentaram sintomas do novo coronavírus, porém deverão ser monitorados.

A Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo orientou que o enterro do paciente seja com caixão lacrado. O velório será com restrição para poucas pessoas, apenas as mais próximas.

O corpo dele não foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML), para evitar que mais pessoas possam ser expostas ao vírus. Ele será encaminhado diretamente do hospital para o cemitério.

Após a morte, e diante dos outros quatro falecimentos suspeitos de relação com o novo coronavírus, Guerra faz um alerta. “A única forma de se prevenir dessa epidemia é que todo mundo fique em casa. É importante permanecer em casa, sem nenhum encontro social”, desabafa a infectologista.

Diante da pandemia, diversos países têm orientado que as pessoas evitem aglomeração, adotem hábitos de higiene para evitar a propagação do vírus e recorram ao distanciamento social, para que se mantenham a cerca de dois metros de distância entre si.

Nesta terça, a Prefeitura de São Paulo declarou estado de emergência na cidade — o decreto permite que a prefeitura tome atitudes emergenciais, como cancelar alvarás de eventos já concedidos, comprar suprimentos a preços diferentes, entre outras medidas.

No Rio de Janeiro, o governador Wilson Witzel decretou estado de emergência na segunda e recomendou o fechamento de lojas de shoppings, clubes e academias. Os outros Estados brasileiros também adotaram medidas semelhantes para contenção do novo coronavírus.

Para evitar a propagação do vírus, Guerra orienta que as pessoas devem seguir medidas de higienização: lavar as mãos com frequências, usar álcool em gel e evitar aglomerações. “É preciso reforçar as medidas de proteção pessoal neste momento. Se todo mundo ficar doente ao mesmo tempo, não teremos serviço de saúde para atender a demanda”, afirma.

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