Sem maiores reservas financeiras em comparação aos grandes empreendimentos, os negócios locais e de pequeno porte são os primeiros a sentir os efeitos da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) na economia. Como alternativa para a dificuldade, bancos comunitários e as estratégias financeiras provenientes deles (entenda mais aqui) mostram o quão urgentes são no fortalecimento das cadeias produtivas locais e contribuem com campanhas que incentivam o consumo no comércio local. Mais de uma dezena de bancos como estes estão instalados na Bahia.
Para Tiago Leonardo Muniz, agente de crédito do Banco Comunitário Santa Luzia, localizado no bairro do Uruguai, em Salvador, ações propostas pelos bancos sociais, a exemplo do empréstimo para consumo em moeda social, são instrumentos que contrapõem a queda de renda dos moradores e a consequente diminuição do consumo, já que grande parte dos membros da comunidade atendida pela instituição em que o agente atua não estão inseridos no mercado formal de trabalho.
“Atualmente, somos apoiados por um projeto de finanças solidárias que incluir uma ação voltada ao fortalecimento da rede bancos comunitários no estado e também uma linha de empréstimo solidário que com certeza será nossa atuação mais forte, pois muitos dos nossos clientes solicitam o recurso para justamente comprar na comunidade e isso ajuda muito a manutenção dos empreendimentos e traz um menor impacto neste ponto”, disse Tiago.
Segundo ele, que também participa do Grupo de Trabalho (GT) de Finanças Solidárias da Bahia, as iniciativas econômicas semelhantes ao Banco Luzia estão dialogando com o governo estadual e outros parceiros para que o fundo solidário, de onde vem o recurso para os empréstimos em moedas sociais, possa ser ampliado e possa oferecer o benefício para mais pessoas. Uma outra alternativa pautada por ele é a utilização da moeda digital E-dinheiro, aumentando as opções para quem optar por comprar online ou por meio de pagamento digital na própria comunidade e reduzindo o contato social – atitude recomendada pelas autoridades em saúde.
Quem também integra a promoção de alternativas semelhantes é a administradora e mestre em Ciências Sociais, Simaia Santos Barreto. De acordo com a estudiosa, membra da Incubadora de de Economia Solidária da Universidade Federal da Bahia (ITES/UFBA), a pandemia está se mostrando um desafio para a sociedade. Inclusive com uma redefinição do que são as relações econômicas. Ela acredita que os principais afetados economicamente, de fato, são os pequenos comerciantes, e os trabalhadores autônomos.
No que se refere aos bancos comunitários, ela considera que o principal problema agora “é que o financiamento de consumo deve ser a ‘fundo perdido’, pois grande parte da população está desempregada, enquanto o financiamento dos empreendimentos que podem produzir (como setor de alimentos, máscaras, EPI’s, etc) devem ter um mercado consumidor ‘garantido'”.
IMPACTO DO AUXÍLIO DO GOVERNO FEDERAL
Com os primeiros pagamentos iniciados na última semana, a concessão do auxílio emergencial para trabalhadores informais, autônomos, desempregados e Micro Empreendedores Individuais (MEI) é, na visão de Tiago Leonardo, uma esperança para os comerciantes locais, já que “pode constribuir com o aumento das vendas dos produtos essenciais e que estão liberados para serem comercializados”. No entanto, ele afirma que não sabe se os demais ramos de atividade terão algum impacto positivo com a medida, implementada pelo governo federal.
O auxílio, também conhecido como renda básica, deveria ser aplicada com o apoio dos bancos comunitários, defende Simaia Santos. “Os bancos comunitários tem muito mais acesso à população vulnerável que não é assistida pelas redes bancárias tradicionais, por isso, seria uma opção interessante de implementação da renda básica, pois fortaleceria as experiências sociais ao mesmo tempo que fomentaria os pequenos comerciantes com o direcionamento do consumo local”, justificou.
Pequenos comerciantes são alguns dos mais atingidos | Foto: Reprodução / Fala Cajazeiras
MÁSCARAS COMO ALTERNATIVA
Indicadas pelas autoridades de saúde como um método de prevenção às infecções pela doença, as máscaras artesanais também têm salvado as contas e a comida na mesa de muitos trabalhadores autônomos e informais.
Uma das associações que fazem a produção destes equipamentos de proteção é a Mãos Que Realizam Artes, sediada no Conjunto Feira IX, em Feira de Santana. O grupo é composto por 14 artesãs que produzem peças durante todo o ano. Sem ter por onde escoar, já que vendiam através de feiras, as artesãs viram suas vendas caírem com o surgimento do novo coronavírus e hoje concentram suas atividades apenas com a confecção de máscaras – mas ainda assim a saída tem sido muito pouca.
A situação não é um caso isolado. Pelo menos é o que explicou Simaia Santos. “Alguns estão com produção inviabilizada devido à ausência de crédito e capacidade de comercialização grupos de costura que estão produzindo máscaras caseiras estão com dificuldade de adquirir o material em falta no mercado. Outros, principalmente, no segmento de alimentação não estão regularizados a ponto de cogitarem as linhas de crédito específicas dos bancos formais que exigem documentações que muitas vezes esses empreendimentos não dispõe”, apontou
Fonte: Bahia Notícias