Juazeiro: A cabocla de Juremal que deu 64 mil chibatadas no coroné

Lá para as bandas do Juazeiro existia um coroné muito ligeiro em fazer dinheiro com a coisa pública para si. O homem era tão atrevido que fez até uma montanha de dinheiro virar pó, que nem os juízes acreditaram que isso seria possível.

Acostumado a sentar a espora em todo mundo, o cabra a cada dia estava mais ganancioso, e no mundo inteiro queria mandar. Até nos cafundó dos judas ele foi querer tomar de conta. Deixando os demais coroné com as orelhas em pé, mas como ele era atrevido e poderoso, todos temiam a ele enfrentar.

E assim o coroné foi mandando e se esparrando para todo lado. Chegou o dia da eleição, ele todo contente, gastou uma fortuna imensa que era da saúde, e dinheiro da merenda escolar também se foi, até o padre ficou sem receber a tão prometida quantia.

O coroné para surpresa de todos eleito foi, mas não pode assumir. Uma beata correu para fazer uma prece agradecendo a Deus pela justiça, o pobre moço na fila do hospital rogou uma praga e as crianças na escola sem merenda desejou a fome um dia ele experimentar.

Quem imaginou que com essa ele sossegava, perdeu aposta, veio uma doença terrível e o homem ficou mais ensandecido, deixando mulheres e crianças morrerem por falta de assistência.

Sem ter mais para quem apelar, o povo implorou para uma cabocla esperta e ligeira, que vivia matreira lá para as bandas da Jurema. Ela que tinha fama de valente, destemida e justa, não contou conversa, e ao coroné veio enfrentar.

Ele achando que seria fácil, de peito aberto veio para peleja, a cabocla soltou no terreiro com um reio de boi feito sobre encomenda, e no lombo do coroné começou à açoitar.

Foram dias e noites de chibatadas. Uns dois que assistiram o maltrato disseram que a conta chegou a 64 mil, ninguém sabe ao certo se foi, mas de uma coisa é certa, o coroné desbandou pela caatinga afora, que não tem cristão no mundo que lhe faça voltar para bandas do Juazeiro.