A quarenta quilômetros de Juazeiro, mas precisamente no distrito de Conchas/ Maniçoba, vive o agricultor e escritor Bertolino Alves Nascimento, autor de quatro obras que retratam o cotidiano de sua comunidade.
Seu Bertolino, que por força maior não pôde finalizar seus estudos, se auto descobriu cedo no exercício da leitura e escrita, mas a iniciativa de escrever sobre a história, cultura, tradições e a economia do local partiu de um convite feito por um grupo de irmãs da igreja católica para participar de um evento educativo em que um dos convidados seria o intelectual Paulo Freire.
“Neste dia eu estava grato pelo convite e muito empolgado porque veria uma pessoa que na época eu já o considerava o gênio em educação. Fiquei atento ao que ele falava, e lembro-me como hoje da fala que me marcou profundamente, ele dizia que até hoje somente a classe dominante escrevia, e de forma distorcida, nossa história. Fiquei refletindo sobre essa fala e me perguntei se realmente seria possível um oprimido contar através da escrita a história de sua gente”, ressaltou o agricultor.
Sempre ligado aos acontecimentos da comunidade, o agricultor sentiu que estava na hora de registrar a história, cultura, religião e a economia da comunidade. Com a ajuda de moradores mais antigos, ele coletou informações e escreveu sua primeira obra intitulada ‘Nasce uma comunidade’. No livro, o agricultor descreve sobre o atraso do local e as dificuldades de sua gente sofrida.
Em sua paixão pela escrita, o agricultor se engajou no nascimento de mais um livro, este por nome ‘Maniçoba, sua gente e sua cultura’. Na obra, o escritor relata os 25 anos da chegada do progresso por meio do Perímetro Irrigado.
Já ciente de seu papel social, e do impacto que a leitura pode fazer na vida de um indivíduo, seu Bertolino produziu mais dois livros, o ‘Reminiscências’ e o ‘São Gonçalo do Mulungu’. As obras abordam o verdadeiro cenário de fé, a força, determinação e solidariedade do povo local.
Assim como todo amante da escrita e leitura e sempre preocupado com o bem estar coletivo, o agricultor tem suas queixas dos órgãos públicos em conhecer trabalhos capazes de desenvolver intelectualmente e culturalmente uma sociedade.
“O poder público fecha os olhos para desenvolver ações que tragam benefícios para comunidade, creio que um dia esse eco vai ecoar mais forte e, por fim, chamar à atenção das pessoas capazes de transformar nosso cenário”, pontuou o escritor.
Hoje, com 74 anos, e sempre na esperança de dias melhores, seu Bertolino segue pensando como Paulo Freire, acreditando que a educação muda as pessoas, e que as pessoas podem mudar o mundo por meio dele.
Por Maiara Santos, jornalista.