BRASIL POLÍTICA

Lula para vice-presidente é a primeira flor do recesso deste ano

Sempre que o Congresso entra em férias no meio e no fim do ano, desabrocham o que o ex-deputado Thales Ramalho, secretário-geral do antigo MDB à época da ditadura militar de 64, chamava com desdém e certa graça de “flores do recesso”.

São assuntos que brotam espontaneamente ou não, destinados a ocupar espaço nobre na seção de política dos meios de comunicação até que o Congresso volte a funcionar. Irrompem como num passe de mágica. Fenecem de repente.

Poucos atravessam meses na boca dos políticos. Nos anos 1970, pelo menos um teve vida longa – o diálogo entre militares e a banda mais à esquerda do MDB. Não existia, foi uma ideia de fim de semana. Quando aconteceu, a ditadura já havia se esgotado.

Enquanto não despontar um candidato a presidente na eleição do ano que vem que sirva de alternativa a Jair Bolsonaro e a Lula, haverá solo fértil para que viceja a proposta de que Lula faça o favor de concorrer à vice-presidência, à presidência jamais.

Seria da parte dele um gesto de grandeza admirável e digno de um estadista – é o que dizem. O mais importante a essa altura é derrotar Bolsonaro, o ignóbil! Uma chapa com Lula de vice, e um nome de centro (não confundir com o Centrão) seria imbatível.

De acordo, para argumentar. Mas por que o contrário também não seria imbatível – Lula na cabeça, o candidato do centro na vice? Não seria o caso de esperar que o centro construa seu candidato para só depois concluir se ele seria mais forte do que Lula?

O que adiantará Lula de vice de um candidato que tenha dificuldade de crescer? Como convencê-lo de que embora lidere todas as pesquisas de intenção de voto, deveria sair da frente para que outro passe? E se não passar? Ou se Bolsonaro passar?

Ninguém é obrigado a votar em Lula. Contra ele, condenado e preso em 2018, muitos votaram em Bolsonaro para evitar a volta do PT com Fernando Haddad. Poderão fazê-lo outra vez, é do jogo. Mas impedir que Lula jogue o jogo não é decente nem realista.

Quem pariu Bolsonaro, e agora se arrepende, poderá barrá-lo em 2022 ou então pari-lo novamente – o voto é livre e tem que ser. Mas que não banque o esperto terceirizando uma decisão que é só sua. Há espaço bastante ao centro – falta o candidato. Há tempo.

Fonte: Blog do Noblat