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Petrópolis vai arcar com os sepultamentos; parentes reclamam de demora na liberação dos corpos

O empresário João Carlos Castro de Oliveira, 55, morava no bairro Washington Luís, no Centro de Petrópolis, e era pai de dois filhos. Ele é uma das dezenas de vítimas da tragédia. Seus parentes relatam a angústia pela demora na para a liberação do corpo para o sepultamento desde quarta-feira. Eles dizem que já fizeram o reconhecimento e criticam “a burocracia” para a remoção. A prefeitura da cidade afirma que “reforçou o número de profissionais para a exumação” dos mortos.

— Essa demora é uma angústia, dor. Queremos nos despedir e não conseguimos. Não sabemos quanto tempo teremos para fazer o enterro. São várias perguntas. O corpo foi identificado ontem. Ele foi morto em casa, acharam cedo. Estamos sofrendo. Só queremos um respeito com a gente. Tem que ter um preparo maior para essa tragédia — desabafa a química Josiane Castro de Oliveira, 41.
 

Ela disse que faltam agilidade, profissionais e equipamentos.

— Se aqui não tem suficiente, computador suficiente, tem que ter mais gente para trabalhar. Já é uma despedida tão dolorosa e a gente tem que passa por essa demora. Foi uma tragédia de uma hora para outra. Está tendo uma falha na liberação — desabafa Josiane.

De acordo com a família, João Carlos era o mais velho e estava em casa quando a residência desabou.

— Temos um grupo de irmãos no WhatsApp, porque a gente se uniu muito após o meu pai falecer há menos de um ano. No horário da chuva, eu pegava meu filho de 8 anos na escola, no Centro. Ele pediu pra gente não sair de casa por conta do temporal. Eu consegui voltar e a última mensagem dele foi às 6h08. Depois ele não se comunicou mais. A gente achava que ele estava bem. No entanto, a noite soubemos que a casa dele tinha desabado. Ele morreu acolhendo funcionários de uma obra da casa ao lado do meu tio — diz Josiane.

Caso similiar ocorre com a família de Rafael Xavier de Castro, de 42. Ele voltava para casa e, quando passava pela Coronel Veiga, o ônibus em que estava foi arrastado pela correnteza. Desde ontem, o vendedor Filipe Xavier peregrina por hospitais em busca do irmão. Ele foi informado de que o corpo do irmão está no caminhão frigorífico.

— Meu irmão ficou preso no ônibus que a correnteza levou. Fizemos um pré-cadastro, e temos que mandar uma foto para eles fazerem o reconhecimento dos corpos com as fotos. Meu irmão não merecia isso.

O juiz auxiliar da Presidência do Tribunal de Justiça do Rio Alexandre Teixeira de Souza afirmou, em Petrópolis, que a prefeitura vai arcar com os sepultamentos. Mais um caminhão frigorífico chegou ao muniicípio. A Mitra ofereceu o cemitério para os enterros.

— O nosso compromisso é de que todos os corpos que estão no IML serão identificados e liberados hoje. O ente querido que for identificado e estiver sem identificação civil será liberado automaticamente, com o que vocês (família) disserem. Para facilitar, trouxemos o cartório e a funerária para cá (ao IML): ninguém precisa se deslocar para mais nenhum lugar. Os cartórios funcionarão em prazo suficiente e necessário para que possamos liberar os corpos — afirmou o juiz.

Por falta de espaços nas câmaras frigoríficas do IML de Petrópolis e no caminhão frigorífico que a Polícia Civil havia colocado no local, o TJRJ enviou mais um caminhão frigorífico para armazenar os corpos que estão chegando no local e posteriormente sendo reconhecidos. O automóvel chegou no bairro Corrêas as 13h e já começara a ser usado em instantes.

Luciana de Almeida Lemos, defensora pública e coordenadora regional do órgão em Petrópolis, afirmou que a instituição ficará no IML durante uma semana para ajudarem nos trâmites para a liberação de corpos e futuramente, caso precisem, judicializem para que corpos sejam identificados através de DNA.

— Nós orientamos as famílias a comparecerem aqui no IML. Essas pessoas tem que preencher uma ficha para o reconhecimento dos corpos. Tem um sofrimento, sabemos disso, mas temos que nos atentar às questões técnicas para evitar erros. Para agilizar o processo, o IML está separando os mortos por localidades encontradas. Mas, pedimos que os familiares tragam tudo que possam ajudar na identificação dos parentes para que não haja erro na liberação — destaca Luciana, que completa:

— Chegamos hoje e estamos tentando agilizar esse trâmite: reconhecimento , registro do óbito e sepultamento. Queremos orientar as famílias nesse processo. Por enquanto os corpos estão sendo encontrados e são identificados. Mas, posteriormente, poderemos judicializar porque alguns corpos poderão ter que passar por processo de DNA.

A Defensoria está com cinco pontos de atendimento espalhados pela cidade para prestar atendimento a famílias que estão sem energia elétrica e que perderam seus pertences. Um deles fica em frente ao IML, prioritário para parentes de vítimas desaparecidas ou já reconhecidas.

O gerente de uma funerária de Petrópolis, Moisés Alves da Penha, 49, está ha 30 anos nessa área. Ele reconhece que “essa é uma situação atípica” e que terá que sepultar ao menos 12 corpos.

— Já lidei com situações (de outros temporais) assim em outras ocasiões. Mas essa foi pior que as outras. O diferencial foi a brutalidade. Desta vez, foi bem pior. Tenho muitos corpos, e as pessoas as vezes ficam nervosas pela demora. Mas a gente entende que não pode liberar um corpo de qualquer maneira. Depende de papiloscopistas, de papéis e isso demora um pouco. Mas as pessoas que perdem seus entes querem resolver logo isso.

A Polícia Civil afirmou que toda a sua estrutura “está mobilizada para prever e atender às demandas da perícia em Petrópolis”. A pasta disse ainda que “não existe nem falta de material nem de pessoal”. Ainda de acordo com a instituição, “os familiares estão sendo acolhidos e atendidos na Sala Lilás com atendimento especializado”.

A secretaria disse ainda que os dados estão sendo processados no Instituto de Identificação Félix Pacheco (IIFP) no Centro do Rio e os resultados encaminhados para o IML de Petrópolis.

 

Por: Agência O Globo