Uma reação de parlamentares petistas impediu o anúncio público da decisão do senador Jaques Wagner (PT) de não disputar a eleição para o governo da Bahia e de indicar o também do senador Otto Alencar (PSD) para o posto de candidato.
Pelo acordo que havia sido sacramentado na noite de quinta-feira, o governador Rui Costa (PT) renunciaria ao mandato até o dia 2 de abril para concorrer ao Senado. Com isso, João Leão (PP) governaria o estado por nove meses.
A expectativa era que o anúncio do acordo fosse feito nesta sexta-feira, mas ao longo do dia surgiram reações de parlamentares. “Declaramos que não reconhecemos nenhuma decisão que não passe pelas devidas instâncias partidárias. O órgão máximo de definição da tática eleitoral é o encontro partidário. O PT é um partido político, diferente de outros, que não tem dono, tem instâncias de decisão que são respeitadas. Conclamo as bancadas federal e estadual do PT, prefeitos e vereadores, dirigentes e militância, a defender a candidatura própria do PT com Wagner governador”, postou o deputado federal Jorge Solla nas redes sociais.
Lideranças do PT da Bahia tentam realizar um encontro político na próxima segunda-feira para reafirmar a candidatura de Jaques Wagner. Há o temor que a reação dos parlamentares faça com que o Otto recue da sua decisão de assumir a candidatura a governador.
Um aliado próximo ao senador do PSD, porém, afirmou acreditar que a interferência do ex-presidente Lula pode conter a rebelião do PT baiano e que “existe grande probabilidade de Otto Alencar ser o candidato à governador”, mesmo com o cenário adverso.
A expectativa agora é que o anúncio ocorra após o Carnaval. Lula viajará para o México no próximo domingo e só volta ao Brasil no fim da próxima semana.
O líder do governo na Assembleia Legislativa da Bahia, Rosemberg Lula Pinto (PT), reconhece o desconforto.
— É natural que para o PT, que tinha como certo o nome para Wagner, e para o PSD, que tinha certo o nome de Otto para o Senado, é uma alteração. Há de parte a parte estranhamento, é natural isso.
Rosemberg acredita ainda que haverá empenho do PT por Otto, se a escolha do senador do PSD como candidato a senador for sacramentada.
— Eu mesmo torço muito para o que nome seja Wagner, mas se for Otto, vou trabalhar com o mesmo entusiasmo.
Em reunião com Lula na última terça-feira, em São Paulo, Wagner já havia revelado que não tinha vontade de ser candidato. O senador petista ainda tem mais quatro anos de mandato. Restava, porém, convencer Otto a se candidatar a governador. O senador do PSD tinha preferência por concorrer a um novo mandato, mas aceitou assumir o posto.
O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, vinha mostrando contrariedade com a possibilidade de Otto disputar o governo. O assunto passou a ser debatido depois que o senador do PSD, Costa e Wagner se reuniram com Lula, na semana passada em São Paulo.
O apoio do PT a um candidato a governador do PSD no quarto estado do país com mais eleitores, de quebra, serve como um gesto de agrado ao partido presidido por Gilberto Kassab. Lula quer atrair o PSD para a aliança nacional.
A escolha de Wagner para disputar o governo havia sido definida por Lula, em viagem à Bahia, em agosto do ano passado. Otto concorreria ao Senado e Rui Costa cumpriria o seu mandato de governador até o fim.
Há divergências sobre os motivos da mudança de cenário. Os aliados de Wagner dizem que Costa se empolgou com pesquisas internas que mostraram a sua alta popularidade e passou a se colocar como candidato a senador. A sua entrada na disputa levaria a um rompimento da aliança com PP e PSD.
Já os petistas ligados ao governador afirmam que Wagner começou a manifestar vontade de desistir de disputar novamente o cargo que ocupou entre 2007 e 2014. A partir daí, Costa se colocou, com o objetivo apenas de reforçar a chapa.
O principal adversário de Otto, se confirmado como candidato, na corrida pelo governo da Bahia será o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil), que deixou o comando da capital do estado com altos índices de aprovação.