BRASIL

Brasileiros com ‘dinheiro esquecido’ em bancos enfrentam burocracia para receber centavos

Quando o Banco Central informou o lançamento de um sistema que revela se brasileiros têm valores a receber “esquecidos” em instituições financeiras, a expectativa foi grande. No mesmo dia em que o novo serviço do BC foi ao ar, o número acessos derrubou o site por 21h.

Com a divulgação de que os clientes tinham cerca de R$ 8 bilhões a receber dos bancos, muitos imaginaram que poderiam ter cifras altas para resgatar. Quando os valores foram liberados, no entanto, a maioria dos consumidores se depararam com valores irrisórios, com pouco ou nenhum poder de compra.

— Achei que daria pelo menos para tomar umas cervejas, fazer um churrasco com o dinheiro que tinha lá. Mas só deu para três latões —  diz Marcus Vinícius de Araújo, advogado, que vai resgatar R$ 12,89.

— Não deu para o churrasco que eu imaginava. Eu tinha um financiamento de um carro, uns 20 anos atrás, comprei, paguei, já nem tenho mais o carro, e não sei por que o dinheiro estava lá — diz o advogado.

Machado, por sua vez, não vai usar o dinheiro que tem a receber: isso porque, segundo ele, o valor que possui não compensa a burocracia para que possa ser resgatado – apenas um centavo.

— Não criei uma expectativa muito grande porque sou uma pessoa cuidadosa, tive poucas contas bancárias, sempre fui correntista do mesmo banco. Ficou aquela brincadeira em casa, os filhos brincando que eu iria receber um dinheirão. Não achava que fosse ser muito, uns cinquenta reais, talvez. Mas também não imaginava que seria um centavo. Um conhecido meu também tinha um centavo só. Não vou resgatar porque não dá pra comprar uma bala sequer, é um valor irrisório — relata o aposentado.

Quem também não pretende tomar posse do valor a receber é o editor de vídeos Erick Queiroz, que ficou esperançoso quando soube que tinha cifras a serem recuperadas. Ele imaginou possíveis destinos ao dinheiro esquecido, como consertar o carro e fazer reparos na casa. O sonho, contudo, foi destruído quando descobriu que tinha apenas centavos a receber.

— Depois que vi os 13 centavos, pensei melhor e vi que não tinha possibilidade de eu ter esquecido um valor mais alto. Deixei pra lá, por conta da pequena quantia. Mas eu juro que se tivesse R$ 10,00 na conta, tiraria na hora. Já daria para tomar um açaí — conta Queiroz.

O que fez o editor de vídeos desistir de recuperar o valor foi a burocracia necessária para recebê-lo. É preciso agendar a transferência do dinheiro. Para ele, entretanto, o sistema é bem-feito e merece elogios: “a demora para chegar até o resultado é frustrante, mas eu admiro bastante como isso foi feito, por conta de todo um aparato de segurança. Evitar fraudes e roubos é muito importante” opina.

Por: Agência O Globo