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Pernambuco tem média diária de 110 casos de violência contra mulher entre janeiro e maio de 2022, aponta dossiê

ento e dez mulheres sofreram violência em Pernambuco, em média, por dia, entre janeiro e maio de 2022. São cinco casos registrados a cada hora, no estado. Os dados são baseados em um levantamento da Secretaria de Defesa Social (SDS) e estão no dossiê “Violência contra as mulheres em Pernambuco”, lançado, nesta sexta (15), por movimentos de mulheres.

O grupo é integrado pelo Fórum de Mulheres de Pernambuco, Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, Mulheres da Federação dos Trabalhadores Rurais de Pernambuco (Fetape), Mulheres da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e mulheres do Partido dos Trabalhadores (PT).

O documento também mostra que, no período estudado, 16.614 casos de violência doméstica e familiar foram registrados em Pernambuco segundo dados da Secretaria de Defesa Social (SDS). Destes casos, 3.683 ocorreram no Recife, 4.076 na Região Metropolitana e 8.875 em municípios do interior.

Segundo movimento, a SDS não informa quais os tipos de violência foram registrados: física, psicológica, moral, patrimonial ou feminicídio, quando a vítima é morta por uma questão de gênero. Para o grupo, o índice é subnotificado, já que muitas mulheres ainda têm dificuldade para denunciar.

A articulação de mulheres também pesquisou sobre os serviços criados para atenção e proteção no estado, como centros especializados de atendimento, delegacias, hospitais especializados, casas-abrigo.

Elas consideram que são “poucos” e que poderiam “ser mais bem articulados”, para garantir o que se propõem a fazer.

Para as integrantes dos movimentos de mulheres, é uma batalha diária para conquistar uma proteção maior.

Em 2020, a articulação das mulheres participou de um audiência pública, mas considerou que poderia ter avançado mais na busca por soluções, se tivesse mais dados para apresentar aos participantes.

A representante do Fórum de Mulheres de Pernambuco Sílvia Marques Dantas afirmou que, como não tinham dados para dialogar, os movimentos fizeram uma pesquisa e construíram um dossiê. Querem abrir um diálogo com o governo.

“Ele é resultado de uma audiência pública que foi feita no ano passado e a gente cobrava políticas para enfrentar esse aumento da violência. Como a gente não tinha dados para dialogar com o governo a gente fez uma pesquisa em todo o estado e construiu esse dossiê sobre a situação dos serviços e da própria política de atendimento à mulher vítima de violência”, explicou.

Segundo Sílvia, o dossiê será apresentado em agosto em uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe).

“A gente vai apresentar como o número de serviços de atendimento que a gente tem é pequeno, pouco, insignificante comparado a dimensão da violência e a gente vai querer saber que iniciativas o estado tem para enfrentar essa situação”, disse.

As coordenadoras do movimento destacam o fato de mulheres negras serem as vítimas mais frequentes da violência. Elas esperam que a nova audiência pública marcada para agosto possa apresentar as respostas de que elas precisam.

“Acho que é importante trazer esse debate para a questão central, dizer que são as mulheres negras mais atingidas com a questão do feminicídio. Para se ter ideia, ano passado, foram 1.350 mulheres que sofreram feminicídio no Brasil e 52% foram mulheres negras”, afirmou Daniela Rodrigues, da Rede Mulheres Negras de Pernambuco.

Serviços de atendimento

De acordo com o levantamento, a Secretaria da Mulher de Pernambuco informa que existem no estado 524 unidades de proteção às mulheres em situação de violência. No entanto, no site do governo, são listadas apenas 80 unidades.

O dossiê também aponta que não há uma articulação entre as Delegacias Especializadas de Atendimento às Mulheres e os Centros de Referência e que os serviços de saúde da família quando identificam uma situação de violência não encaminham a mulher para os centros de referência.

Segundo o levantamento, a Região Metropolitana do Recife (RMR) é composta por 14 municípios e o Distrito de Fernando de Noronha e tem uma população total estimada de 4.082.636 habitantes. Mesmo assim, conta com dez centros de atendimento às mulheres.

Com mais de um milhão de habitantes, o Recife conta com dois centros de referência e um deles foi inaugurado recentemente, no dia 8 de março.

O levantamento dos movimentos de mulheres indica que 79% das mulheres afirmam que muitos policiais não acreditam na seriedade da denúncia de ameaça e no risco que a mulher corre e que essa percepção é maior entre as mulheres negras: 84%.

G1 PE