BAHIA POLÍTICA

O espírito do voto útil vai abater quem na campanha estadual baiana?, por Raul Monteiro*

Aposta velada do PT para ajudar a levar a disputa para o segundo turno na Bahia, a candidatura de João Roma (PL) ao governo não tem demonstrado fôlego suficiente para atingir a própria meta nem atender ao desejo do grupo adversário, como ele, do favorito ACM Neto (União Brasil). Se fiéis à realidade, as pesquisas estão aí para mostrar o que acontece de fato, neste momento de início oficial da campanha, na cabeça do eleitor baiano. Apesar de uma ligeira melhora nos índices de aprovação do presidente Jair Bolsonaro (PL), marcado por uma rejeição assustadora na Bahia, seu ‘the one and only” representante no Estado não avança.

É claro que o candidato do PL espera melhorar a performance com o início do horário eleitoral, no qual, como seu comportamento tem sinalizado até aqui, seu alvo será, preferencialmente, ACM Neto. O tempo relativamente curto do espaço, proporcional à extensão da campanha como um todo, além do baixo nível de exposição a que terá direito, no entanto, não deverão ser bons companheiros de seu esforço. Conforme as últimas sondagens tornadas públicas até aqui, o eleitor não conhece nem parece querer se deixar seduzir pelos olhos azuis do candidato bolsonarista, muito menos pelo seu mal-disfarçado sotaque pernambucano, o que não é preconceito.

A dia de hoje, ainda que seus índices possam registrar uma melhora com o início da propaganda política, Roma é forte candidato a virar suco, principalmente, na etapa final da campanha. Os prognósticos mais razoáveis são de que venha a se tornar uma ilustre vítima do espírito do voto útil, do qual o eleitor tradicionalmente lança mão quando sente que seu candidato não consegue abrir a porta, deslocando sabidamente a aposta para aquele que apresenta mais chances de vencer ou bater a candidatura que considera uma ameaça a seus interesses. O estouro da manada em relação a Roma pode, sim, vir a ser protagonizado pelos bolsonaristas.

Mas o mais provável é que encontre nos anti-petistas racionais que por enquanto ainda orbitam no seu entorno seus principais atores, todos desejosos de impedir que o PT, guindado à condição de inimigo maior em suas cabeças e corações, tenha condições de garantir a manutenção de um poder que já exerce há 16 anos no Estado. Se o fantasma do voto útil ronda Roma e o movimento pode vir a ser estimulado, inclusive, por ACM Neto, caso assim julgue necessário e no momento em que achar conveniente, o ex-prefeito de Salvador também vem sendo ajudado no processo sucessório junto ao tradicional eleitor de direita pela imagem forte do avô, o ex-governador ACM.

O fenômeno é muito forte sobretudo no interior, como relatam os deputados e candidatos que com ele se deslocam em busca de votos, assim como também emerge aqui e ali na capital. Nos rincões da imensa Bahia, para o bem e para o mal, o conservadorismo que se expressa na política tem mais a ver com a história do velho ACM, as referências e o legado que deixou do que com a abordagem oportunista que dele faz o bolsonarismo. É diferente do que ocorre em Salvador, em que o apelo sobre Neto vem do choque de gestão que aplicou na capital baiana, onde consolidou a imagem de que política e administração não se separam, o que reverbera em todo lugar.