Quase um mês após as eleições, a desinformação continua a circular nas redes sociais e a alimentam a atmosfera de manifestantes que ocupam rodovias e portas dos quartéis país a fora. O relatório do PL, sigla do presidente Jair Bolsonaro (PL), em que contesta a confiabilidade de milhares de urnas eletrônicas, virou combustível para a máquina de fake news. E mantém viva a chama dos protestos próximos a quartéis generais das Forças Armadas e em rodovias.
Para o futuro, especialistas ouvidos pelo Metrópoles falam em grande desafio de combate ao quadro de desinformação que preponderou nas eleições deste ano.
A iniciativa recente da coligação de Bolsonaro, de ir ao TSE apontar supostos problemas na apuração do segundo turno, serviu para manter a mobilização de apoiadores que não aceitam o resultado da eleição, seja nas ruas ou em grupos de aplicativos de troca de mensagens.
A ação encabeçada pelo PL chegou aos bolsonaristas num momento crítico, no qual as lideranças (e o próprio Bolsonaro) temiam que o início da Copa do Mundo desmobilizasse os atos de contestação da eleição.
Desde que a nova tática foi iniciada, a produção de conteúdo nas redes sociais foi sustentada pelo assunto. Até com mais intensidade que a ação em si, a resposta dura do ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, foi o que mais acendeu a chama dos bolsonaristas que não aceitam a derrota.
A multa de R$ 22,9 milhões, imposta como resposta à ação, e a acusação de que houve “litigância de má-fé” por parte da coligação de Bolsonaro revoltou a militância, que passou a madrugada de quarta (23/11) para quinta (24/11) amaldiçoando Moraes e a quinta inteira esperando por uma reação do presidente ou das Forças Armadas.
A reunião fora da agenda do presidente não reeleito com os chefes das Forças Armadas, que aconteceu na manhã de quinta, ajudou a reforçar a esperança dos militantes e também a produzir muitas novas notícias falsas sobre intervenção militar.
Fluxo de desinformação
Na verdade, a situação atual mantém um fluxo ativo anterior e posterior às eleições. Um exemplo disso aconteceu no último domingo (20/11), quando bolsonaristas bombardearam as redes sociais com vídeos de urnas sendo retiradas do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP). A narrativa era de que a Justiça Eleitoral estaria “escondendo provas”. No entanto, o órgão informou que os equipamentos sequer foram usados no pleito.
O problema mostra que a praga da desinformação, que tomou conta das eleições de 2018 se repetiu neste ano, não apresenta sinais de trégua para o futuro. Entre junho e outubro deste ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) encaminhou 22.667 alertas para as plataformas digitais a fim de que providências fossem tomadas. O número representa uma média de 170 publicações por dia.