O aceno não é de agora: veio antes de começar, para valer, a campanha presidencial do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, à frente do movimento democrático que o elegeu para seu terceiro mandato no Palácio do Planalto, quando o governador Rui Costa (PT) preparava-se para passar o governo da Bahia ao vice, João Leão, e concorrer à vaga de seu estado ao Senado. Chegou por emissário de peso na coordenação nacional da campanha petista, senador Jaques Wagner, em explosiva entrevista, na Rádio Metrópole, ao apresentador Mário Kertész, ex-prefeito de Salvador, que virou a campanha estadual de pernas para o ar. “Lula pede que Rui desista de ir agora para o senado, e permaneça no Palácio do Ondina até o fim do mandato, comandando a disputa eleitoral na Bahia, pois guarda missão importante para ele, no ministério ou em relevante cargo do primeiro escalão do governo, se for eleito presidente”.
E foi o que se viu, – ainda para espanto de muitos, principalmente das forças oposicionistas comandadas pelo ex-prefeito ACM Neto (UB), que as pesquisas então mostravam com um pé dentro da governadoria, no Centro Administrativo construído no governo de seu avô, Antônio Carlos Magalhães (ACM, “o original”, no dizer de Kertész).
Os ventos começaram a soprar contra desde o “tanto faz” (Lula ou Bolsonaro), mote da campanha de Neto, que resultou no que antes parecia improvável: o líder social Jerônimo Rodrigues foi eleito governador, no quinto mandato seguido do PT no maior colégio eleitoral do Nordeste, e quarto do País. A questão agora é começa a correr nos bastidores, o mote político do tempo em que Antônio Balbino era quem mandava na Bahia: “Uma coisa é pedir voto em campanha eleitoral, outra coisa, bem diferente, é com quem governar”. Vêm daí, provavelmente, os ruídos escutados, – desde a viagem de Lula para a COP 27, no Egito, com retorno de fortes tons políticos, e de encontros e conversas, na parada de dois dias em Portugal, – sobre cargos e funções no futuro governo da frente democrática, liderada pelo PT. E, neste contexto, o governador Rui Costa, que daqui a pouco mais de u mês, estará sem mandato.
Movimentos ainda “cheios de dedos”, não só pelas recomendações médicas de repouso das cordas vocais do futuro presidente, ou pelo ar de desgosto do líder petista sempre que se fala sobre o que o mercado pensa ou deseja do seu ministério, não só pelo que ele acha do marcado em si, mas também pela notória aversão do futuro mandatário, a sofrer pressão de qualquer tipo.
Para efeito externo, não é segredo que o presidente eleito só pretende anunciar os novos ministros em dezembro. Mas à alguns pombos correios do petismo da Bahia, de peso político nacional, – mais fortes ainda, depois do acachapante “cabelo e barba” da vitória no estado, “Lula presidente e Jerônimo governador,” – os sinais são de que, a exemplo do revelado esta semana na coluna Raio Laser, da Tribuna da Bahia, são quatro os nomes do Nordeste que o futuro ocupante do Palácio do Planalto quer no ministério. Um deles, o governador Rui Costa. E para o atual ocupante do Palácio de Ondina faltariam apenas detalhes para a definição: se no Ministério do Planejamento, na pasta das Cidades ou na presidência da Petrobras, que não é ministério, mas segue com o condão de ser um dos postos mais cobiçados do primeiro escalão do governo. O resto a conferir.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br