Anunciado nesta sexta-feira (9) como futuro ministro da Casa Civil pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o governador da Bahia, Rui Costa (PT), 59, deve imprimir na pasta um estilo pragmático com foco em resultados, mas traz na bagagem um histórico de arestas na articulação política.
Nascido na Liberdade, bairro pobre de maioria negra de Salvador, o petista chega ao núcleo central do governo federal fortalecido após eleger seu aliado Jerônimo Rodrigues (PT) para o governo baiano e ajudar a garantir 72% dos votos a Lula no quarto maior colégio eleitoral do país.
Com a nomeação de Rui Costa, a expectativa de uma Casa Civil com perfil mais técnico, com foco no acompanhamento dos projetos prioritários e na interlocução com os demais ministérios.
O governador é conhecido por ter um estilo centralizador e minucioso, acompanhando no detalhe a execução dos projetos sob sua alçada. Defende o planejamento como pilar central do governo e é um crítico feroz das emendas do relator.
Em sua gestão na Bahia, destacou-se como tocador de obras e registrou altos índices de popularidade. Por outro lado, sofreu críticas públicas até mesmo de aliados em relação à articulação política, tida como errática em alguns movimentos e de pouca interlocução com deputados e prefeitos.
Um dos movimentos de maior ruído aconteceu no início deste ano, quando se disse disposto a disputar uma vaga no Senado. A articulação não foi bem vista por aliados e culminou na desistência de Jaques Wagner e do senador Otto Alencar (PSD) em concorrer ao Governo da Bahia.
Três anos antes, ele também foi alvo de críticas ao indicar uma possível candidatura à Presidência e defender em entrevista à revista “Veja” que o PT não condicionasse suas alianças à defesa da bandeira “Lula livre”. Na época, Lula ainda estava preso e a fala foi criticada por membros da cúpula petista.
Eleito em 2014 com o apoio do então governador Jaques Wagner, conseguiu construir uma marca própria e se firmou como líder fora da sombra de seu padrinho político.
Em 2021, a Bahia registrou o maior número absoluto de mortes violentas entre os estados brasileiros, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O estado também patina entre os últimos lugares do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).
Em sua gestão, privatizou a Cesta do Povo, uma rede estatal de supermercados fundada no final dos anos 1970, e fez parcerias público-privadas para a gestão de unidades de saúde.
Dentro do PT, é visto como um político mais à direita, e é fortemente criticado por setores do partido na condução de políticas nas áreas de meio ambiente e da segurança pública.
Ajudou a implantar na Bahia o Licenciamento por Adesão e Compromisso, regra que prevê licenças automáticas para empreendimentos e que ele considera a “legislação ambiental mais moderna do país”.
Na segurança, é criticado por supostamente minimizar casos de violência policial.
O episódio mais marcante aconteceu no início de sua gestão, quando uma chacina no bairro do Cabula, em Salvador, deixou 12 jovens mortos por policiais militares. Na época, o petista comparou a ação dos policiais a um “artilheiro em frente ao gol”, que precisa tomar decisões de forma rápida.
Na pandemia, foi elogiado pela postura firme na definição de medidas restritivas, mas passou a ser investigado após liderar a compra de um lote de respiradores pelo Consórcio Nordeste que não foram entregues. O pagamento foi feito pelos governos, mas parte do dinheiro ainda não foi restituída.
Rui se disse vítima de pessoas desonestas: “Nós fomos roubados em um momento de desespero para conseguir respiradores”, disse à Folha em dezembro de 2021 ao ser questionado sobre o episódio.
Esta será a primeira vez que Rui Costa vai ocupar um cargo de relevo em âmbito federal. Sua experiência em Brasília foi curta: eleito para a Câmara dos Deputados em 2010, licenciou-se em 2012 para assumir a Casa Civil do governo Jaques Wagner.
No entorno do governador, há uma expectativa de que o roteiro se repita nos próximos quatro anos, com o fortalecimento do nome de Rui para a sucessão de Lula em 2026 –o presidente eleito já afirmou que não deve concorrer à reeleição.