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AVC na adolescência: entenda o mal súbito que provocou a morte de Arthur Singer aos 13 anos

O ator e cantor Arthur Singer morreu aos 13 anos em razão de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) na última quinta-feira, 6. Singer participou do reality show Canta Comigo Teen, da Record, em 2021, e atuou em musicais como Matilda e The Pilgrims. A família publicou relatos nas redes sociais agradecendo as mensagens de carinho e as orações.

A mãe de Arthur, Meire Adriane, disse ao Gshow que ele teve um AVC hemorrágico. Os médicos que o atenderam disseram a Meire que ele nasceu com uma malformação. “Nunca foi detectada, porque o meu filho nunca reclamou de dor de cabeça e a gente só procura fazer uma tomografia, uma ressonância, quando nós temos uma queixa. O meu filho nunca se queixou disso”, afirmou ela.

O AVC, conhecido popularmente como derrame, é uma das principais causas de morte na fase adulta, mas nas crianças é uma patologia rara. A incidência é de 2 a 8 casos a cada 100 mil, segundo o neurocirurgião Fernando Gomes, professor livre-docente do Hospital das Clínicas de São Paulo. No caso do AVC hemorrágico, ele explica que as principais causas são malformações que acontecem dentro do sistema nervoso e também traumas cranianos.

Jovens que têm doenças de sangue como anemia falciforme, hemofilia, leucemia, bem como problemas no coração, como cardiopatia congênita ou adquirida, têm mais probabilidade de ter AVC. “Muitas vezes esses fatores de risco são silenciosos. A pessoa tem uma vida normal, não tem nenhuma outra comorbidade e, de repente, descobre um quadro de complicação grave”, diz Gomes.

No tipo hemorrágico, que segundo a mãe foi o caso de Arthur, pode existir um aumento súbito da pressão intracraniana, o que leva a pessoa ao coma e até mesmo à morte. O especialista explica que esse aumento, além de provocar o sangramento no cérebro, deixa o coração sem força para levar sangue para a cabeça. E a pessoa, assim, pode evoluir para a morte cerebral, completa o especialista.

O neurologista do Hospital Sírio-Libanês Eli Faria Evaristo afirma que questões genéticas, histórico familiar, doenças renais, alguns medicamentos de controle de coagulação também estão entre as causas. Quando um jovem tem um AVC, diz Evaristo, há um impacto muito grande para a família. Por outro lado, crianças e jovens têm um potencial de recuperação e resposta aos tratamentos muito bons. “O AVC aparece com um mal súbito. A maneira como o problema se apresenta, e se existe a possibilidade de ser tratado rapidamente, reduz o dano. São maiores as chances de recuperação.”

Já Álvaro Pentagna, neurologista do Hospital Vila Nova Star, avalia que poucos serviços de emergência hospitalar estão capacitados para atender esse tipo de caso em crianças. No geral, os treinamentos dos profissionais e os serviços estão mais focados para o socorro de AVC em adultos.

Ele alerta que não se pode minimizar os sintomas que surgem nos jovens: “Ninguém acha que nessa faixa etária uma criança pode ter um AVC. Sinais como paralisia de um lado do corpo, dificuldade para falar, tontura, alterações da visão e dor de cabeça não devem ser ignorados. Os sintomas aparecem de forma abrupta. Quanto antes procurar atendimento médico, mais chance de recuperação haverá”.

Veja perguntas e respostas sobre o AVC

O que é um AVC?

Segundo o Ministério da Saúde, o AVC acontece quando vasos que levam sangue ao cérebro entopem ou se rompem, provocando a paralisia da área cerebral que ficou sem circulação sanguínea. É uma doença que acomete mais os homens e é uma das principais causas de morte, incapacitação e internações em todo o mundo.

Existem dois tipos de AVC, conforme o ministério:

O AVC isquêmico ocorre quando há obstrução de uma artéria, impedindo a passagem de oxigênio para células cerebrais, que acabam morrendo. Essa obstrução pode acontecer devido a um trombo (trombose) ou a um êmbolo (embolia). O AVC isquêmico é o mais comum e representa 85% de todos os casos.

O AVC hemorrágico ocorre quando há rompimento de um vaso cerebral, provocando hemorragia. Esta hemorragia pode acontecer dentro do tecido cerebral ou na superfície entre o cérebro e a meninge. É responsável por 15% de todos os casos de AVC, mas pode causar a morte com mais frequência do que o AVC isquêmico.

Quais são os principais fatores de risco para desenvolver um AVC, de acordo com o Ministério da Saúde?

  • Hipertensão
  • Diabetes tipo 2
  • Colesterol alto
  • Sobrepeso
  • Obesidade
  • Tabagismo
  • Uso excessivo de álcool
  • Idade avançada
  • Sedentarismo
  • Uso de drogas ilícitas
  • Histórico familiar
  • Ser do sexo masculino

Quais as principais causas para ter um AVC na infância ou na adolescência?

“Na infância e na adolescência, as principais causas são: cardiopatias congênitas, distúrbio da coagulação, trombofilias, malformações vasculares cerebrais, vasculites (inflamações dos vasos sistêmicos do cérebro), infecções agudas e crônicas, doenças genéticas, alguns tipos de tumores e anemia falciforme”, afirma Alex Baeta, médico neurologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Quais são os sinais de risco e alerta para que um médico seja procurado o quanto antes?

De acordo com Maurício Hoshino, neurologista e membro do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura, entre os sinais de alerta estão: paralisia de algum membro, boca torta, perda da fala, dor de cabeça súbita, principalmente com vômitos e alteração visual.

Como é feito o diagnóstico?

“O diagnóstico do AVC deve ser feito o mais precocemente possível com a realização de uma tomografia de crânio”, afirma Hoshino.

“Também pode fazer uma ressonância ou um estudo vascular por angiotomografia ou angiorressonância ou uma angiografia cerebral para documentar o evento vascular”, acrescenta Baeta.

Quais os tipos de tratamento?

No caso de crianças e adolescentes, envolve, primeiramente, a necessidade de manter a glicemia controlada, assim como o volume sanguíneo e a oxigenação. “Controlar a temperatura corporal, que não pode subir. Controlar bem a pressão arterial, sem contar que é de suma importância quais são os fatores de risco para o paciente e tentar revertê-los da melhor maneira possível”, afirma Baeta.

O tratamento inclui ainda o acompanhamento para reabilitação neurológica com fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional e neuropsicologia. “Não podemos esquecer que as crianças e os adolescentes têm mais chance de recuperação. Quanto mais jovem, os neurônios têm mais chance de formar novas conexões”, diz Baeta.