O que deveria ser uma viagem por aplicativo de menos de meia hora, rotineira, fez com que uma mulher se tornasse mais uma vítima na estatística de violência sexual na Bahia. No trajeto do bairro de Armação até Sete de Abril, ela foi roubada e estuprada pelo motorista que prestava o serviço. O caso aconteceu na quarta-feira (20).
O crime foi registrado na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam/Brotas). Segundo a Polícia Civil, a vítima já foi ouvida e passou por exames de corpo de delito. Ela será encaminhada para acompanhamento psicológico.
Só este ano, 595 pessoas sofreram estupros no estado, o que equivale a 10 por dia. Destas, 512, ou seja, 86%, são mulheres. Os números são dos Dados Nacionais de Segurança Pública, disponibilizados pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública com informações das Secretarias de Segurança dos estados.
De acordo com Romina Margarita Hamui, mestra em saúde comunitária pelo grupo Programa Integrado de Pesquisa e Cooperação Técnica em Gênero e Saúde (MUSA), do Instituto de Saúde Coletiva da Ufba, sofrer violência sexual impacta a vítima de modos irreversíveis.
“Uma vítima de violência sexual nunca vai voltar a ser a pessoa que era antes. O jeito que essa transformação acontece depende da estrutura de cada pessoa, das suas ferramentas para lidar com as situações, da sua rede de apoio. Vários fatores irão marcar esse processo, mas sempre há um processo. E geralmente é um processo muito duro”, diz.
Hoje com 41 anos, a advogada Viviane** foi vítima de estupro pelo esposo de uma tia aos 8 anos de idade. Apesar de não lembrar de todos os detalhes, ela lembra que os abusos aconteceram mais de uma vez e ninguém da sua família percebia.
“Eu contei para uma colega, ela disse para minha irmã e minha irmã contou para os meus pais. O caso foi levado ao conhecimento das autoridades públicas, mas ficou por isso mesmo. Ele não foi preso, condenado e nem julgado, o tempo passou e ele veio a falecer. A injustiça ficou como mais um trauma para mim”.
Foi a impunidade da sua própria experiência que fez com que Viviane escolhesse a carreira atual, visando ajudar outras vítimas. “Infelizmente, eu não consigo evitar que esse crime aconteça com outras pessoas, mas consigo ajudar de alguma forma a reparar esse dano. Eu posso oferecer um apoio no lugar de alguém que foi vítima, de quem sabe o que é isso, como é esse sofrimento. Porque uma coisa é dizer ‘eu imagino’, outra coisa é viver na pele a situação. E eu vivi”, conta.
Em 2023, foi aprovado o Projeto de Lei 4186/21 que aumenta a prescrição de crimes de violência sexual contra crianças e adolescentes de três para 20 anos, contados a partir da data em que a vítima completa 18 anos.
Fonte: Correio da Bahia