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‘Os caras confiam em mim para lidar com o arrego’, disse jovem morto ao lado da família, em Niterói, ao se passar por PM para traficantes

Uma troca de mensagens no WhatsApp encontrada pela polícia no celular de Filipe Rodrigues — morto mês passado ao lado da mulher, Rayssa Santos, e do filho de sete meses, Miguel Filipe, em Niterói, na região metropolitana do Rio — mostram como o motorista de aplicativo tentava enganar os traficantes da comunidade do Castro ao se passar por um PM. O GLOBO teve acesso às mensagens que ajudaram os investigadores a chegar até um dos suspeitos, Wesley Pires da Silva Sodré, de 34 anos, preso na manhã desta quarta-feira.

A Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí apurou que Filipe exigiu R$ 50 mil dos criminosos em troca da identificação de um suposto informante que estaria vigiando o tráfico na localidade.  Essa pessoa, de acordo com a polícia, conta como desaparecida e provavelmente está morta. A identidade dela não foi revelada. Os investigadores analisam ainda se a pessoa seria, de fato, um informante. Pelo menos R$ 11 mil foram pagos, em duas parcelas, ao gesseiro que negociou a entrega de mais R$ 39 mil no dia em que foi executado ao lado da família.

Segundo as investigações, toda a trama entre Filipe e o mandante do crime, Lucas Lopes da Silva, o Naíba, apontado como chefe do tráfico no Morro do Castro, começou no dia 7 de março e se estendeu até o dia da execução. Em meio à negociação, os traficantes teriam descoberto que o jovem de 24 anos nunca tinha sido policial e decidiram matá-lo.

Filipe estava com a mulher e o filho, em um Voyage Branco, alugado por ele no dia anterior ao crime, quando teve o carro alvejado por mais de 20 tiros, no bairro Baldeador, próximo à comunidade.  Dois homens encapuzados chegaram perto do veículo e efetuaram os disparos.

Filipe teria se apresentado a Naíba como policial militar de vulgo “Demolidor” do 7° BPM (São Gonçalo). Durante a troca de mensagens, para ganhar a confiança dos criminosos, o motorista em diversos trechos teria dito que seria envolvido com esquemas de contravenção e que era o “responsável pelo arrego” na região.

“Sou soldado. Quem tem que resolver tudo aqui na guarnição sou eu. A diferença é que fui envolvido em vários bagulhos de contravenção, jogo do bicho, maquininha. Os caras aqui confiam em mim para lidar com o arrego”, escreveu ele em um trecho.

Na abordagem, Filipe chegou a dizer ao traficante que tinha informações de um suposto informante na comunidade, mas que só cederia detalhes da localização do homem mediante a um pagamento de R$ 50 mil. Quantia, que, segundo a vítima, seria dividida entre ele e os supostos colegas de farda envolvidos no esquema.

Dois dias antes de ser executado, enquanto Filipe cobrava o valor restante ao Naíba, o criminoso planejava a execução do motorista com o comparsa Wesley Pires da Silva Sodré. Nesta altura, já era de conhecimento do tráfico de que Filipe mentia sobre ser policial.

Atraído para uma emboscada

No dia 17 de março, Filipe foi avisado por Naíba que Wesley entregaria o resto do pagamento, os R$ 39 mil, em um local ainda a ser combinado. No entanto, o encontro não passava de uma emboscada. O lugar para a entrega do dinheiro foi modificado diversas vezes por Wesley, a fim de atrair Filipe até a comunidade do Castro. Ele foi com a mulher e o filho de colo, e todos acabaram baleados. Nas mensagens, ele chega a informar ao traficante que alugou um Voyage branco, sem insulfilm: “tô montando o maior teatro para você pegar seu X. Então vê se não dá furo comigo”, disse ele na mensagem após compartilhar a localização em tempo real ao Wesley.

Naquele dia, o carro da família foi atingido por mais de 20 tiros, disparados por dois homens encapuzados em uma moto. A polícia ainda busca informações sobre quem atirou na família.

Fonte: Globo