Estudo feito pelo Instituto Fogo Cruzado e pela Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas aponta que os bairros de maioria negra em Salvador são mais afetados por tiroteios no entorno de escolas do que os bairros com população negra abaixo da média da capital.
A pesquisa considerou os tiroteios ocorridos entre 4 de julho de 2022 e 30 de agosto de 2024, durante dias e horários letivos. Onze bairros de Salvador, de um total de 124 que tiveram tiroteios próximos a escolas no período, concentram 34% dos tiroteios. Todos têm população negra acima da média do município, que é de 79,48%, de acordo com dados do Censo de 2010.
Os cinco bairros com mais tiroteios em um raio de até 300 metros das escolas durante dias e horários letivos foram:
- Fazenda Grande do Retiro: com 39 tiroteios (86,38% da população negra; 12,08% branca)
- Beiru/ Tancredo Neves: 27 tiroteios (86,57% da população negra; 11,70% branca
- Castelo Branco: 27 tiroteios (84,50% da população negra; 23,60% branca)
- Engenho Velho da Federação: 25 tiroteios (87,22% da população negra; 11,79% branca)
- Federação: 24 tiroteios (79,58% da população negra; 19,50% branca
Dos 124 bairros mapeados pelo estudo, apenas 30 têm população negra abaixo da média de Salvador. A pesquisa registrou apenas um bairro de maioria branca com tiroteio próximo a escolas, a Barra. O registro foi feito em 11 de outubro de 2023. Quatro bairros de maioria branca não registraram nenhum tiroteio próximo de escolas: Vitória, Graça, Pituba e Patamares.
Políticas desiguais
“A violência armada não atinge a todos da mesma maneira porque as políticas de segurança também são desiguais. Precisamos nos perguntar por que tantos bairros concentraram somente um tiroteio nos 200 dias letivos, enquanto outros tiveram ao menos um tiroteio a cada 12 dias, sobretudo quando consideramos que 43% dos tiroteios mapeados ocorreram durante ações policiais”, avalia Maria Isabel Couto, diretora de dados e transparência do Instituto Fogo Cruzado.
Para Dudu Ribeiro, cofundador e diretor-executivo da Iniciativa Negra e também integrante da Rede de Observatórios da Segurança na Bahia, essa nova etapa do levantamento demonstra que no quadro já dramático das escolas públicas municipais e estaduais da cidade de Salvador, em relação ao número de tiroteios no seu entorno, há ainda uma maior incidência de eventos em bairros e territórios com a maioria negra acima da média da população de Salvador. “Isso é mais um elemento revelador do massacre racial vivido pela população dessa cidade, e que aponta a necessidade de políticas afirmativas e reparatórias, com atenção especial a esses dados, para a gente conseguir produzir saídas. No caso da proteção da vida de crianças, adolescentes e jovens, no ambiente das escolas, é necessário que seja observado essa prevalência, para a gente conseguir de fato promover as mudanças necessárias e urgentes”, conclui ele.