SAÚDE

Juazeiro: “Minha filha nasceu em minhas mãos, e fui eu quem a amparou para que não caísse no chão”

Uma moradora de Juazeiro, que não quis ser identificada, encaminhou denuncia de maus tratos e caso de violência obstétrica que, segundo ela, ocorreu no Hospital Materno Infantil de Juazeiro.

“No dia 26 de novembro de 2025, dei entrada na Maternidade de Juazeiro. Por volta das 22h30, entrei em trabalho de parto. As dores eram intensas, vomitei várias vezes e, ainda assim, fui ignorada. Minha irmã informou à equipe, mas não recebi assistência. Ao ir ao banheiro, acabei dando à luz sozinha, por volta das 23h. Minha filha nasceu em minhas mãos, e fui eu quem a amparou para que não caísse no chão.

Minha irmã chamou o enfermeiro, que, da porta, me olhou com desprezo e disse apenas: “Venha andando pra cama.” Eu estava sangrando intensamente, segurando minha filha e sem condições de caminhar. Ao demonstrar dificuldade, ele afirmou: “Coloque o feto na calcinha, e sua irmã lhe ajuda. “Mesmo devastada física e emocionalmente, fiz o possível para obedecer. Caminhei até a cama com minha filha nos braços. Lá, o enfermeiro pediu que eu a colocasse na maca, cortou o cordão umbilical com evidente nojo e deixou o restante do cordão e dos tecidos pendurados, dizendo que eu ficaria “assim até o dia seguinte”, quando seria realizada a curetagem.

CONFIRA NA INTEGRA DENÚNCIA DE VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA – MATERNIDADE INFANTIL DE JUAZEIRO

No dia 26 de novembro de 2025, dei entrada na Maternidade de Juazeiro (CLISE) por volta das 10h00. Durante uma consulta de pré-natal, foi constatado que minha bebê estava sem batimentos cardíacos. Fui então informada de que seria internada para indução do parto e, posteriormente, para realização de curetagem, pois eu estava com 20 semanas e 3 dias de gestação.

Durante o plantão diurno, fui tratada com respeito e cuidado pela equipe de enfermagem. A cada exame de toque, recebi explicações, orientação e administração adequada da medicação. A enfermeira responsável demonstrou empatia e humanidade, essenciais em um momento tão doloroso.

Contudo, ao anoitecer, iniciou-se o plantão que mudaria completamente a forma como vivi o pior momento da minha vida. O enfermeiro que assumiu — cujo nome infelizmente não sei — apresentou, desde o primeiro contato, uma postura rude, fria e desrespeitosa. A medicação, prevista para as 20h, só foi aplicada às 21h, sem qualquer justificativa. Durante o toque e a aplicação, ele sequer manteve contato visual comigo. Sua conduta demonstrava total descaso.

Por volta das 22h30, entrei em trabalho de parto. As dores eram intensas, vomitei várias vezes e, ainda assim, fui ignorada. Minha irmã informou à equipe, mas não recebi assistência. Ao ir ao banheiro, acabei dando à luz sozinha, por volta das 23h. Minha filha nasceu em minhas mãos, e fui eu quem a amparou para que não caísse no chão.

Minha irmã chamou o enfermeiro, que, da porta, me olhou com desprezo e disse apenas:

“Venha andando pra cama.”

Eu estava sangrando intensamente, segurando minha filha e sem condições de caminhar. Ao demonstrar dificuldade, ele afirmou:

“Coloque o feto na calcinha, e sua irmã lhe ajuda.”

Mesmo devastada física e emocionalmente, fiz o possível para obedecer. Caminhei até a cama com minha filha nos braços. Lá, o enfermeiro pediu que eu a colocasse na maca, cortou o cordão umbilical com evidente nojo e deixou o restante do cordão e dos tecidos pendurados, dizendo que eu ficaria “assim até o dia seguinte”, quando seria realizada a curetagem.

Em seguida, ordenou a uma técnica que:

“Recolhesse o feto e colocasse no lixo do centro cirúrgico.”

Eu disse que não, que queria enterrar minha filha. Outro profissional, de forma grosseira, respondeu:

“Tem que levar logo, senão isso vai apodrecer.”

Referindo-se à minha filha como “isso”, como se fosse um objeto descartável.

Após isso, simplesmente saíram. Fiquei ali, em choque, dor e desespero — sem assistência, sem acolhimento, sem dignidade. Sozinha, retornei ao banheiro e forcei a expulsão da placenta, porque me recusava a passar a noite inteira com restos do parto presos ao meu corpo. Apenas na manhã seguinte, às 10h, foi realizada a curetagem.

Minha filha nasceu perfeitinha. Eu mesma desenrolei o cordão do pescoço dela.
Ela não era lixo. Minha filha jamais deveria ter sido tratada como algo a ser descartado.

Saio desse episódio marcada para sempre. Além da dor do luto, carrego a dor de ter sido tratada com crueldade em um espaço que deveria proteger, acolher e respeitar.

Escrevo este relato para que outras mulheres saibam o que aconteceu dentro daquela maternidade, para que isso não seja silenciado, e para que mais ninguém precise passar pelo que eu passei.
Violência obstétrica é real, é grave e precisa ser denunciada.

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