A queda de Marcos Cintra da chefia da Receita Federal e o provável arquivamento da ideia de recriar a a CPMF livram Jair Bolsonaro de um incômodo. Até o ministro Paulo Guedes, da Economia, já havia encampado em público a proposta de criar um imposto sobre transações financeiras (pode me chamar de CPMF). Algo que Bolsonaro, do hospital, diz estar descartado.
Em termos econômicos, a volta da CPMF seria como retirar da cartola um coelho que propiciaria arrecadação de R$ 150 bilhões por ano. Não é pouca coisa. Do ponto de vista político, a mágica produziria uma metamorfose. Jair Bolsonaro seria transformado diante dos olhos da plateia num ex-Bolsonaro.
Como deputado, Bolsonaro desancou a CPMF. Sob FHC, chamou-a de “desgraça”. Sob Lula, disse que era coisa de “cara de pau”. Votou contra a criação do tributo e a favor de sua extinção. Como presidenciável, Bolsonaro recitou todos os defeitos da CPMF. E assegurou que, eleito, jamais admitiria a volta da encrenca.
Contra um pano de fundo como esse, marcado pela ambiguidade de um secretário do Fisco e de um ministro que defendiam algo que o presidente dizia abominar, a inclusão da nova modalidade de CPMF na proposta de reforma tributária do governo seria um oportunismo fiscal a serviço dos inimigos. Alegava-se que a volta da CPMF viria em benefício da criação de empregos, pois a folha salarial seria desonerada.
Nessa versão, o governo ofereceria um sacrifício à vista —a mordida no bolso dos brasileiros— e um benefício a prazo— a hipotética criação de empregos. Algo que depende da recuperação da economia. A conversão de Bolsonaro em ex-Bolsonaro talvez fizesse sentido se existisse no Congresso disposição para aprovar a aventura. Como a chance de o novo tributo emplacar no Legislativo é inexistente, a iniciativa do governo estava se convertendo apenas numa tolice.
Fonte: Blog do Josias