Dados do Censo Agropecuário do IBGE mostram que, de 2006 a 2017, o número de estabelecimentos agropecuários com a certificação de produção orgânica cresceu mais de 1.000% no Brasil, saltando de 5.106 para 68.716.
Trata-se de um avanço importante para o país que é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo, segundo o Atlas do Agronegócio, da Fundação Heinrich Böll. E, apesar do avanço, há ainda muito espaço para crescimento, pois apenas 1,4% do total de propriedades eram certificadas em 2017.
Minas Gerais é o estado com o maior número de estabelecimentos agropecuários de agricultura orgânica: são quase 11 mil. Em seguida, estão Pernambuco, Paraná, São Paulo e Rio Grande do Sul. Alguns dos principais alimentos produzidos dessa forma são café, cacau, soja, açúcar, frutas tropicais e arroz, além da pecuária.
Nilmar Arbex de Castro, instrutor do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) de Minas Gerais e consultor na área de agricultura orgânica, agroecologia e plantas medicinais, aponta um aumento exponencial nesse modelo de produção no Brasil e no mundo.
“Vários países já estabeleceram leis que priorizam a agricultura orgânica, inclusive encerrando as atividades da convencional”, explica. Ele afirma que são preocupantes os casos de intoxicação no campo devido ao uso de defensivos agrícolas: “temos que partir para uma maneira de se produzir mais racional e menos agressiva”.
De acordo com o especialista, a vantagem do orgânico é ser um produto isento de resíduos, pesticidas e contaminantes, além de ter qualidade nutricional acima da observada para produtos convencionais – em termos de valor biológico, teor de açúcares, vitaminas.
Isso porque produtos químicos e sintéticos não são permitidos e as técnicas de cultivo sempre utilizam ingredientes e alternativas naturais para adubar o solo e combater pragas. Além dos benefícios à saúde, a produção orgânica também tem vantagens econômicas para a região. Por exigir maior mão de obra, ela gera empregos e reduz o êxodo rural, como explica Nilmar.
A exigência por itens de qualidade e que afetem menos o meio ambiente são fatores apontados pelo consultor para a tendência de aumento tanto da oferta quanto da procura por produtos orgânicos. Nesse sentido, o selo de certificação orgânica é um diferencial e permite ao consumidor garantia de boa procedência.
Para receber tal reconhecimento, o produtor deve atestar que trabalha dentro das diretrizes da agricultura orgânica, que vão desde o preparo do solo até a venda final, levando em consideração a preservação do meio ambiente e a qualidade de vida dos trabalhadores.
Produtor orgânico certificado
Na fazenda do José Nicácio Itagyba, de 76 anos, em Carmo de Minas, no sul do estado, os funcionários e suas famílias têm direito à moradia gratuita perto do local de trabalho, com água corrente e ônibus escolar na porta. Também recebem salários acima da média para a região, são recompensados por assiduidade e possuem banco de horas trabalhadas. Por fim, não têm de lidar com produtos químicos nas lavouras.
Tudo isso porque a propriedade segue os preceitos da agricultura orgânica, a qual visa a uma produção ambiental, econômica e socialmente sustentável. Itagyba mantém anotações de todos os processos realizados na lavoura. Periodicamente, ele recebe visita de auditores que verificam se a fazenda continua trabalhando de maneira orgânica, para ter direito a seguir usando o selo de certificação.
Uma das técnicas para fortalecer naturalmente as plantas e enriquecer o solo é o chamado consórcio de espécies, ou seja, o plantio alternado de duas culturas em uma mesma área.
“Quando vim para cá, já tinha 250 mil pés de café plantados. Implantamos 18 mil pés de banana. Também vou introduzir limão”, diz o produtor. Em outros hectares, ele também cultiva feijão e alho, todos com destino a São Paulo para comercialização.
Fonte: CAERDS