Baiano como João Gilberto (1931 – 2019), mas natural de Santo Amaro da Purificação (BA), terra natal de Caetano Veloso e Maria Bethânia, o violonista e compositor Cézar Mendes foi um dos poucos que rompeu a barreira em torno de João, travando contato com o colega genial e genioso nos últimos anos de vida do inventor da batida diferente que resultou em 1958 na bossa nova.
Essa proximidade agrega valor à homenagem prestada ao artista por Mendes na canção intitulada João. Apresentada na edição de 7 de julho do programa Fantástico (TV Globo), em meio à comoção causada pela notícia da morte de João Gilberto no dia anterior, a composição é uma parceria de Cézar Mendes com Arnaldo Antunes, com quem interpretou a música.
Poeta inicialmente ligado ao mundo do rock que aos poucos se aproximou da constelação da MPB, Antunes conseguiu a proeza de sintetizar nos versos de João a grandeza do arquiteto de uma nação musical fundada em 1958.
Eis a letra da canção – que ainda reverbera nas redes sociais dez dias após a morte do gênio – apresentada no Fantástico com a voz de Arnaldo Antunes (reverente ao canto macio e minimalista de João) e o violão de Cézar Mendes, músico que se tornou compositor em 1997 e, mais de 20 anos depois, tem obra já gravada por grandes estrelas de um universo musical que teve em João Gilberto o astro maior:
João
(Cézar Mendes e Arnaldo Antunes)
São tantos e tão poucos têm noção
De como se inaugura uma nação
Não é bem com monumentos
Ou com balas de canhão
É quando uma brisa
Bate na respiração
E entra no juízo de um João
Que dedica todo empenho
E amor ao seu engenho
Para arejar
Os cantos da canção
E dar sentido à nossa sensação
Reviravoltam numa vibração
Para nos dar sua benção
Para nos tirar do chão
Como se a rotação
Da terra fosse então
Essa voz e esse violão
Quando uma só pessoa
O silêncio aperfeiçoa
Toda a multidão
Escuta o coração
E se torna civilização
Fonte G1