JUAZEIRO

Agrotóxicos podem causar câncer, apontam pesquisas

Pense em um alimento. Ele provavelmente está contaminado com agrotóxicos.

Agrotóxicos estão em frutas, verduras, carnes, leite, bebidas, produtos industrializados e em quase tudo que compramos nos supermercados. O Brasil já é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo: todo ano, consumimos o equivalente a mais de 7 litros de agrotóxicos por pessoa. Em alguns estados, como o Paraná, o índice é pior: chega a 8,7 litros de agrotóxicos por pessoa.

Pesquisas desenvolvidas por órgãos como a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e Ministério da Saúde – Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) apontam aquilo que muitos agricultores já perceberam: agrotóxicos podem causar diversas doenças. Entre elas, problemas neurológicos, motores e mentais, distúrbios de comportamento, problemas na produção de hormônios sexuais, infertilidade, puberdade precoce, má formação fetal, aborto, doença de Parkinson, endometriose, atrofia dos testículos e câncer de diversos tipos.

Agrotóxicos podem causar câncer, apontam pesquisas

SEGUNDO PESQUISADORES, CONTAMINAÇÃO JÁ ATINGE ATÉ LEITE MATERNO

O Dossiê Abrasco, publicado em 2015 pela Abrasco, Fiocruz e outros órgãos de pesquisa, aponta que, muito além da alimentação, consumimos agrotóxicos, pesticidas e adubos químicos por vias nem imaginadas. Agrotóxicos contaminam o solo, as águas de chuvas e lençóis freáticos e até mesmo o leite materno.

Os estudos indicam ainda um dado pouco lembrado pelos brasileiros: em um único alimento, ingerimos diversos agrotóxicos diferentes. Além disso, ingerimos diariamente e durante a vida inteira.

Nosso organismo não tem a capacidade de eliminar muitos dos elementos químicos, que vão se acumulando no corpo ao longo dos anos. Essa exposição contínua tem efeitos tão graves que nem mesmo a ciência sabe a dimensão do estrago que pode causar na saúde.

BRASIL ESTÁ CONSUMINDO AGROTÓXICOS JÁ PROIBIDOS EM VÁRIOS PAÍSES.

Muitos agrotóxicos já proibidos na União Europeia e Estados Unidos ainda são largamente utilizados no Brasil. Esse uso está diretamente relacionado à política agrícola do país, construída através de uma aliança entre empresas transnacionais, bancos, latifundiários e Governo.

Relações políticas ancoradas no financiamento de campanhas por empresas do agronegócio e em articulações com o Governo podem resultar em trocas de favores e situações alarmantes do ponto de vista da manutenção da democracia e do combate à corrupção.

A bancada ruralista na Câmara Federal é formada hoje por mais de 200 deputados (do total de 513), que reúnem votos suficientes para aprovar – ou não – leis. Por exemplo, políticas de estímulo ao agronegócio, redução de áreas de proteção ambiental, redução de direitos indígenas e paralisação de pautas que dizem respeito à reforma agrária e distribuição de terras.

A AGROECOLOGIA É UMA FORMA DE COMBATER OS EFEITOS NOCIVOS DO AGRONEGÓCIO

O monocultivo (plantação de uma única cultura, normalmente soja ou cana-de-açúcar) é uma forma de produção que contraria todas as leis da natureza, por isso só funciona com uso intensivo de agrotóxicos. O uso contínuo de agrotóxicos acaba com a fertilidade do solo e cria um ciclo negativo: plantas mais doentes, “pragas” mais resistentes, solo mais pobre e necessidade cada vez maior de adubos químicos e agrotóxicos.

O primeiro passo para transformar essa realidade é reduzir o consumo de agrotóxicos no dia a dia, priorizando o consumo de produtos agroecológicos produzidos de forma local. Além dessa mudança individual, é essencial uma pressão ao governo por mudanças nas políticas públicas, que visem o banimento dos agrotóxicos mais perigosos, a redução no uso dos agrotóxicos e a implantação de uma Política Nacional de Incentivo à Agroecologia.

  • O QUE É AGROECOLOGIA?

Um sistema de produção que dispensa o uso de venenos como agrotóxicos e fertilizantes químicos, fornecendo alimento saudável e de qualidade. A técnica da agroecologia reúne conhecimentos tradicionais e modernos, e se baseia no uso de adubos naturais e na relação de equilíbrio e regulação entre as diversas espécies. Por isso, tem alta produtividade o ano todo de diversos tipos de alimentos e, ao invés de contaminar o solo, contribui para sua fertilidade. É praticada principalmente por pequenos produtores familiares e movimentos agrários. Ao lado de técnicas como a agrofloresta, é apontada como a principal alternativa para o futuro da agricultura brasileira por ser sustentável, economicamente viável e socialmente justa.

O que é agroecologia? — Foto: Rodrigo MotookaO que é agroecologia? — Foto: Rodrigo Motooka

O que é agroecologia? — Foto: Rodrigo Motooka
  • AGROECOLOGIA CONSEGUE PRODUZIR TANTO QUANTO O AGRONEGÓCIO?

Dados apontam que a agroecologia pode alcançar o dobro da produtividade do agronegócio. Além disso, demanda de muitas pessoas para sua manutenção, o que gera mais empregos, distribuição de renda e impacta positivamente a economia do país. Com uma política de incentivo nacional, a agroecologia tem capacidade para produzir alimento de qualidade e em quantidade suficiente para toda a população mundial.

  • CUSTA MAIS CARO?

Não. Muitas vezes, os orgânicos são colocados a preços altos em supermercados porque são produtos do próprio agronegócio (que tem interesse neste nicho de mercado). Mas comprar em feiras agroecológicas ou direto com produtores/as rurais é mais barato. Isso porque alimentos gerados em sistemas equilibrados têm um custo de produção menor do que os produzidos com compostos químicos.

Fonte: G1/Paraná

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