A negativa do governo americano de apoiar a entrada do Brasil na OCDE é uma derrota ampla do governo Bolsonaro. E isso porque o próprio governo havia valorizado a possibilidade de entrar na Organização, após os EUA prometerem apoio à pretensão brasileira, em março, como se isso fosse nos tornar automaticamente um país desenvolvido. Agora, o governo tenta minimizar o fato. Mas a tentativa de reduzir o tamanho do fracasso não convence.
O secretário-geral adjunto da OCDE, Ludger Schuknecht, disse em evento nesta quinta-feira, em São Paulo, que o país precisa de reformas para se integrar, mas sem abandonar a responsabilidade ambiental e social. Nisso aí havia um recado contra a política ambiental e social do governo Bolsonaro. No mundo hoje não basta prometer ajustar as contas públicas. É isso o que Schuknecht quis dizer.
A situação do governo ficou ainda pior porque os Estados Unidos anunciaram apoio à Argentina — além da Romênia —, o que torna o movimento do governo Trump inexplicável. A Argentina enfrenta uma desagregação econômica, deterioração fiscal e cambial, além da incerteza política diante da iminente volta do peronismo ao poder. As eleições podem mudar totalmente a orientação de políticas públicas, por exemplo, na área fiscal.
A OCDE reúne 36 países ricos e em desenvolvimento e é um centro de avaliação e debates de políticas públicas. A entrada no grupo funcionaria, na avaliação de alguns analistas, como uma espécie de selo de qualidade dos países na condução socioeconômica e de questões ambientais.
O ministro Paulo Guedes afirmou ao site “O Antagonista” que o apoio não veio por uma questão de “timing”. A candidatura da Argentina estaria mais adiantada e o Brasil seria indicado em outra oportunidade. Não convenceu. O Brasil, em troca, já havia se comprometido a abrir mão da sua classificação de país em desenvolvimento na Organização Mundial do Comércio (OMC), o que significa, na prática, abrir mão de vantagens tarifárias.
Fonte: O Globo