Exibir o corpo na internet para um espectador desconhecido em troca de dinheiro é profissão e alimenta uma indústria bilionária, que só em 2016 lucrou aproximadamente US$ 3 bilhões (cerca de R$ 9,7 bilhões), segundo pesquisa do LiveJasmin, principal plataforma de camgirls do mundo .
As chamadas camgirls são as protagonistas desse mercado, que tem no sexo seu principal combustível. Na prática, uma profissional que faz esse tipo e vídeo tem a tarefa de instigar desejo e gozo, além de levar descontração e relaxamento para quem a assiste.
“Nem sempre a audiência está atrás de orgasmos. Às vezes, a pessoa quer apenas esquecer o dia que teve”, conta Alice*, 23, que há dez meses reserva suas madrugadas para entreter voyeurs.
O site da LiveJasmin recebe entre 35 e 40 milhões de visitantes por dia e tem cerca de 2 mil pessoas se exibindo. Ali não são apenas mulheres que estão atrás da câmera. Existem homens, casais, duplas, trios e até grupos. E há todo tipo de gente. Padrão não é necessariamente algo bom para os negócios quando o assunto é fetiche. “As pessoas gozam com as coisas mais doidas que se pode imaginar”, diz a jovem.
A coluna Pouca Vergonha conversou com três brasileiras que trabalham como camgirls em sites dedicados aos stripteases caseiros. Elas revelam o que as levaram a despir o corpo na internet, entregam os pedidos mais inusitados da audiência e o que aprenderam sobre si mesmas depois que passaram a realizar a atividade.
“Tinha cliente que sentia tesão sendo humilhado por ter pau pequeno”
Sou fotógrafa e musicista. Moro em Curitiba desde 2015 e não sou camgirl em tempo integral. No início, tinha mil bloqueios em relação à sexualidade por ter sido criada em uma sociedade machista e cheia de julgamento. Eu me libertei disso quando passei a exercer a atividade.
Comecei por dinheiro, com certeza. Poderia ter feito outras coisas para ganhar uma grana, mas escolhi sexo porque gosto de sexo. Quando você trabalha com isso, precisa entender das coisas. Fui estudar. Estava completamente fascinada. De repente, tinha de atender clientes que sentiam tesão sendo humilhados por terem pau pequeno.
E eu gosto de fetiche, mas foi só quando me livrei das minhas próprias barreiras que pude realmente usufruir, de forma natural.
Um dos pedidos que mais me marcou foi quando um moço me pediu para colocar um episódio do Pato Donald no YouTube, enquanto eu fingia ser a bruxa má da história. Nos períodos que mais trabalhei, tirava uns 2 mil reais a cada 15 dias. (Luana*, 32, Curitiba, Paraná)
“Meu primeiro orgasmo foi em frente de uma câmera”
Tinha 20 anos quando decidi ser uma camgirl. Umas amigas já eram, e isso tornou minha entrada mais fácil. Não fui atrás de dinheiro, já que eu tenho um trabalho fixo de vendedora, queria só experimentar algo novo.
A verdade é que minha sexualidade sempre foi muito reprimida, tinha problemas de autoimagem e fazia um tempo que enfrentava a bulimia. Minha ideia era estar ali para me sentir mais bonita. E foi o que aconteceu.
Não sou nenhuma modelo, pelo contrário: sou mais gordinha, tenho estria, celulite e nenhuma bunda. Pode parecer loucura me jogar logo no mundo do sexo, tão cheio de preconceitos. Mas o que vi ali, sendo uma camgirl, é que só chega em você quem gosta de você. Funciona como uma espécie de proteção.
Tanto que meu primeiro orgasmo foi na frente de uma câmera, para uma audiência de 20 pessoas. Eu estava me masturbando em cima da minha cama quando rolou.
Penso que ser uma camgirl é uma atividade que transcende a pornografia, é mais que vender o corpo, é se entender melhor. (Alice*, 23, Mossóro, Rio Grande do Norte)
“Mostrar o corpo na internet reforçou minha autoestima”
Faz uns seis meses que passei a tirar a roupa para desconhecidos. Meu motivo? Diria que é um misto de prazer e diversão. É um jeito de explorar minhas fantasias, brincar com a minha sexualidade.
Ser camgirl e atriz pornô seria a mesma coisa? Particularmente, acho que não. No pornô, você está presa em um sistema exploratório. Como camgirl, tenho autonomia de fazer o que quiser com o meu corpo, a hora que quiser. Sou eu quem decide estar ali. É uma escolha e, no meu caso, muito consciente. Se me masturbo, é porque quero. Se não quero mostrar o rosto – o que é regra para mim -, não mostro.
Por fim, acredito que mostrar o corpo na internet reforçou minha autoestima. Dinheiro não importa por enquanto, até porque passo poucas horas por semana na frente da câmera. A comissão que acabo ganhando é ínfima. No mês passado, deu um pouco mais de mil reais. (Larissinha Carioca, 27, Niterói, Rio de Janeiro)
Quarentena aumentou procura por camgirls
Em meio a pandemia do coronavírus, a demanda por camgirls tem aumentado. O CameraHot, um dos principais portais nacionais de modelos que se exibem para a câmera, teve um acréscimo de 300 mil visitantes se comparado ao mês passado.
Por dia, o site recebe mil novos usuários cadastrados, um crescimento de quase 30%. Já o Câmera Privê relata que nos últimos dias, o aumento foi de 10 a 15% no volume de acessos e novos usuários. A onda é mundial: em muitos países, as assinaturas e acessos de sites com conteúdo pornográfico têm aumentado exponencialmente.
Bruninha Fitness, 30 anos, é camgirl desde os 18 anos. Para ela, que trabalha com o Câmera Privê, a quarentena tem rendido bem. “Nos últimos dias, meu ganho teve um aumento de 50%. Não posso reclamar. Sou grata por ter esse trabalho home office. Em meio a tamanho caos acontecendo, ficar sem trabalhar é um problema”, disse em entrevista à coluna Pouca Vergonha.
Ela não conta, exatamente, quanto de lucro levanta por dia de trabalho, mas dá uma estimativa: “Uma camgirl ganha em torno de R$ 250 a R$ 300 por dia. Existem meninas que passam uma média de oito horas diárias on-line e tiram R$ 500, R$700″.
Sobre os clientes, ela diz que sabe identificar “de primeira” quando são novatos ou “fidelizados”. “Quem já manja de camgirl costuma ter um comportamento padrão. Eles perguntam como estamos, conversam sobre coisas do dia a dia. Alguns users novatos são tímidos e não falam muito. Outros acabam chegando de uma forma mais ríspida. Não cumprimentam, então, não têm essa quebra de gelo inicial que, para nós, é muito importante e relevante”, pontua.
Fonte: Metrópoles