BRASIL POLÍTICA

Cientista político afirma que o país pode ter eleição modelo anos 50

As eleições municipais deste ano tendem a ser mais federalizadas, em função da pandemia do Coronavírus, com características que se assemelham em muitos aspectos às observadas nas décadas de 1940 e 1950, por conta do distanciamento dos candidatos, e realizadas mediante critérios singulares, que precisarão ser analisados com muita atenção nos próximos anos. Quem afirma isso é o cientista político e acadêmico Antonio Lavareda, que já participou de 91 campanhas políticas e é autor do livro intitulado “Emoções Ocultas, Estratégias Eleitorais”.

Em live, há pouco, afirmou que é preciso, para os cientistas e cidadãos como um todo, refletir sobre que características deverão surgir das urnas nestas eleições, assim como os perfis dos candidatos a serem eleitos.

“A sociedade logo vai se dar conta que terá eleições totalmente diferentes do que se tinha até então. O contato candidato-eleitor, as aglomerações dos comícios, não existirão”, destacou.

Ele lembrou que ingredientes importantes para o pleito estão sendo observados pela primeira vez, como reuniões pelos aplicativos de internet, chamadas e contatos diversos em redes sociais. A quantidade de informações sobre os candidatos pode até ser grande em muitos momentos, mas com o fim do contato físico ou da redução desse contato, a forma de realização das campanhas terá um novo perfil.

Na avaliação de Lavareda, todas essas mudanças deverão se refletir sobre características que vão surgir das urnas, tanto nos perfis dos candidatos como nas preferências do eleitorado.

Questionado sobre a possibilidade de haver um aumento ou retomada de casos de contaminação com a Covid-19 no período da eleição, o que pode levar ao temor das pessoas de sair de casa para votar, o cientista político disse não achar que isso venha a ser observado. Até mesmo, ressaltou, pelo fato de a campanha começar somente na segunda quinzena de setembro.

Mas afirmou considerar importante que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) trabalhe com esta possibilidade. E, também, que o TSE transmita informações suficientes para a população, de forma a possibilitar segurança na realização do pleito.

Perguntado se não achava que se, em vez das eleições municipais o momento fosse de renovação dos mandatos da Câmara e do Senado haveria um adiamento para 2021, Lavareda concordou. Mas acharia temeroso se isto acontecesse. “A democracia do Brasil, vez por outra, se vê desafiada por movimentos que se contrapõem à autonomia entre os poderes. E isso levou à avaliação de muitos políticos que não seria uma boa iniciativa”, afirmou.

O cientista político também fez um alerta para o fato de que “os candidatos devem ter responsabilidade para realizar as campanhas dentro das limitações que essas eleições exigem”.

Como o Brasil tem um número alto do eleitorado que vive na pobreza e é analfabeto e, por isso, não tem acesso às redes sociais, Lavareda afirmou que as eleições de 2020, para esses eleitores, terão um pouco de semelhança com pleitos observados nas décadas de 1940 e 1950 em que os candidatos nem sempre percorriam todos os locais onde estava o eleitorado. “Vamos regredir às eleições observadas naqueles tempos. Num contexto assim fica reduzida a taxa agregada de informação dos eleitores”, observou.

Ele disse ter preocupação grande com as fake news e o que definiu como “o papel deletério que essas notícias têm na vida democrática e nas eleições”. “Os candidatos precisam ter uma grande responsabilidade com a veracidade das informações que transmitam sobre terceiros”, pregou.

De acordo com o cientista, “anonimato, possibilidade de escalonamento e robotização são a forma das fake new no mercado atualmente”.

Lavareda contou, ainda, que antes da pandemia da Covid-19, existiam no mundo inteiro 16 países com legislação para coibir fake news. A pandemia e a difusão cada vez maior de notícias falsas, entretanto, levou outros 16 países a elaborar e votar legislação semelhante. E outros países, como é o caso do Brasil, estão com propostas de legislação sobre o tema em tramitação no Legislativo.

Para Lavareda, teoricamente, eleições realizadas em cenário de crise econômica como o que estamos vivendo são adversos para os que estão no cargo e disputam uma recondução, como os atuais prefeitos que são candidatos. Mas a constatação disso só poderá ser observada após o resultado que sair das urnas.

Em sua avaliação, a pandemia também pode trazer uma mudança do quadro de referência da sociedade para os candidatos, tanto que há mulheres que são delegadas e policiais militares que apareciam em pequena quantidade em eleições passadas, disputando cargos em diversas cidades do país.

No tocante às menções debatidas nos últimos meses sobre mudanças no sistema de votações apresentado pelo TSE, ele disse que acha bom não ter sido feita qualquer alteração. Sua posição é de que “qualquer falha que aparecesse poderia levar a sérios problemas e ter proporção ampliada por conta da pandemia”. “Isso iria deslegitimar a credibilidade do pleito eleitoral como um todo”, afirmou.

Lavareda contou que uma alternativa de mudança nestes tempos de reclusão das pessoas até poderia ser o voto postal, mas ele também não acha que seria o ideal porque esse tipo de voto pressupõe o fim do sigilo na hora de votar.

Ele também acha que, embora tradicionalmente as eleições municipais não tenham muita influência na política nacional quanto as estaduais, estas serão diferentes, com um teor de nacionalização muito forte. “Será inevitável esse processo, em meio à crise pela qual passamos. Vivemos um ambiente nacional inédito só comparável às eleições de 1988, no início da nova República”, destacou.

Fonte de informações: BlogMagnoMartins

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