A Bahia tinha pouco mais de 239 mil pessoas com a aplicação da 2ª dose da Coronavac atrasada até o último sábado (8), segundo o último levantamento da Comissão Intergestores Bipartite da Bahia (CIB) com todos os municípios do estado. O colegiado é formado pela Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) e o Conselho de Secretários Municipais de Saúde (Cosems).
Em Salvador, cerca de 70 mil pessoas já não conseguiram completar o esquema vacinal com a Coronavac no prazo estabelecido de 28 dias pelo fabricante, segundo o secretário municipal de Saúde, Leo Prates. Pelo levantamento da CIB publicado no Diário Oficial, o número era ainda maior: pouco mais de 91,2 mil pessoas. Nesta segunda-feira (10), a capital retomou com longas filas a aplicação da Coronavac, apenas para pessoas cuja dose de reforço estava agendada para o dia 1º de maio.
Diversos estados têm sofrido com a falta do imunizante produzido pelo Instituto Butantan, o que tem levado ao atraso na finalização da cobertura vacinal. No último lote distribuído pelo Ministério da Saúde pelo país, a Bahia recebeu no sábado 60,2 mil doses, das quais cerca de 27 mil ficaram em Salvador.
No final de março, o Ministério da Saúde liberou aos estados e municípios a utilização de todo o estoque disponível da Coronavac, sem reserva de doses para a 2ª aplicação, o que levou ao cenário atual. Ainda assim, no momento não é feita reserva de doses da Pfizer e Oxford, informou a assessoria da Sesab. Os dois imunizantes estão sendo aplicados no Brasil com intervalo de três meses entre as doses.
A infectologista Clarissa Ramos diz que, a princípio, a vacinação com um intervalo um pouco maior entre as doses não traria grandes implicações, mas ela destaca que, por se tratar de novos imunizantes, ainda não há dados consolidados em relação a isso. “A gente não tem trabalhos com dados de queda de eficácia, porém com a experiência de outras vacinas que usam a tecnologia de vírus inativado, como a Coronavac, em geral não há prejuízo com o atraso dessa segunda dose. A recomendação do CDC [Centro de Controle de Doenças, na sigla em inglês] não é recomeçar o esquema, e sim continuar de onde parou. Mesmo passando um pouco o tempo, existe a memória imunológica”, afirma.
Movimento – Longas filas se formaram nesta segunda em postos de vacinação em Salvador para a aplicação da 2ª dose da Coronavac, com um grande tempo de espera. Um dos locais com maior movimentação foi o ponto montado na UniFTC, na Avenida Paralela, com relatos de algumas pessoas que aguardaram até 8 hora na fila.
“Desde as 8h da manhã eu estou aqui nessa situação. É uma confusão, uma agonia, estou até com vontade de vomitar. Recebi a informação através de um canal de TV que aqui estaria melhor, mas chegando aqui foi só impressão minha mesmo”, disse Iraci Alves, 63 anos, por volta das 14h de segunda.
A prefeitura de Salvador só informou na noite do domingo (9) como ocorreria a vacinação para as pessoas cuja aplicação da 2ª dose está atrasada. Segundo a gestão municipal, somente quem tivesse a dose de reforço da Coronavac agendada para o dia 1º de maio poderia procurar nesta segunda algum dos postos específicos para demanda aberta – nos drive-thrus montados no PAF Ondina, FTC Paralela, Barradão, Centro de Convenções e Shopping Bela Vista; ou nos pontos fixos da FTC Paralela, Barradão, USF Teotônio Vilela II e USF Yolanda Pires.
“Vim aqui tomar a 2ª dose da vacina no dia 1º. Disseram que não tinha e mandaram vir hoje. Eu cheguei umas 11h30, mas acho que teve gente que dormiu aqui, porque a fila está no Bairro da Paz”, reclamou Magnólia Araújo, 63 anos, também aguardando na UniFTC. Cida Alves, de 64 anos, afirmou que, antes de ir ao ponto da universidade, passou por outros locais em busca do imunizante. “Já rodei Salvador inteira. Não sei mais o que faço”, declarou.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que, devido ao período sem aplicação da 2ª dose da Coronavac na capital baiana, muitas pessoas cuja data da dose de reforço não estava marcada para o dia 1º de maio procuraram nesta segunda os pontos de vacinação, o que teria contribuído em grande parte para as extensas filas.
Além disso, no caso específico da UniFTC, uma parcela da equipe responsável pela imunização chegou atrasada para o começo do turno de trabalho, devido a uma paralisação de rodoviários no início da manhã, segundo a pasta. O problema teria sido resolvido por volta das 9h, informou a SMS.
Em entrevista à rádio A TARDE FM, o secretário Leo Prates garantiu que o estoque atual da Coronavac seria o suficiente para atender nesta segunda a todas as pessoas com a 2ª dose marcada para o dia 1º de maio. A informação foi confirmada pela assessoria da pasta.
Remessas – Nesta segunda, mais 2 milhões de doses de Coronavac foram entregues pelo Instituto Butantan ao Ministério da Saúde e mais dois lotes devem ser repassados à pasta ainda esta semana – 1 milhão de doses nesta quarta-feira (12) e mais 1,1 milhão na sexta (14). No entanto, depois disso, o Butantan só deverá voltar a produzir mais doses com a chegada de insumo da China, afirmou Dimas Covas, diretor do instituto.
“A partir daí não teremos mais vacina porque não recebemos o IFA para que isso possa ser processado. […] Preocupa para o cronograma de vacinação, não neste momento, mas a partir de junho, que poderá sofrer algum impacto”, declarou Covas. Segundo o governador de São Paulo, João Doria, cerca de 10 mil litros de insumo aguardam liberação na China para envio ao Brasil.