BRASIL

Há 520 anos, Rio São Francisco era descoberto pelos colonizadores

Na manhã de 4 de outubro de 1501, uma expedição exploradora comandada por Américo Vespúcio e Gonçalo Coelho – outros falam em André Gonçalves-, chega a foz de um grande rio, em território brasileiro, que os índios chamavam de Opará, em tupi, rio-mar. O rio São Francisco estava descoberto e fora batizado assim, porque surgiu no dia deste santo. Antes, em 10 de junho, os mesmos comandantes haviam passado no litoral paraibano e fundado a Baía de Acajutibiró, nome que o navegante florentino depois mudou para Baía da Traição, talvez por ter assistido a uma cena de antropofagia.

Os “intérpretes” da armada, conhecedores de vários idiomas e dialetos afroasiáticos, estavam em dúvida: Que língua era aquela falada pelo povo de pele acobreada e cabelo azeviche visto em bandos por alí? O tupi não era ainda conhecido dos portugueses, e o povo visto a andar em grupos pelas margens, no caso do rio São Francisco era os Caetés e, de Baía da Traição, os potiguara. Ambos praticavam o canibalismo em rituais, um costume condenado pelos portugueses exploradores, rigorosos católicos praticantes.

Com o correr do tempo, o São Francisco – assim batizado por ser descoberto no dia deste santo -, passou a ser chamado rio das Borboletas, rio da Unidade Nacional por ser navegável em mais de 80% de sua extensão e ocorrer somente em solo brasileiro, rio dos Currais, por causa da evolução da cria de gado em suas margens, e o Nilo Brasileiro, por banhar áreas inóspitas, de solo estéril e permitir irrigação para o cultivo agrícola.

Fronteira natural entre cinco Estados

Nos dias atuais, o Velho Chico percorre cinco estados brasileiros, sendo fronteira natural entre Minas Gerais/Bahia, Bahia/Pernambuco e Alagoas/Sergipe. Na segunda década do Século XXI, ele é responsável pelo fornecimento de energia elétrica para grande parte do Nordeste, concentra um dos maiores plantios de arroz do país em suas margens, irriga as maiores culturas de melão e cebola do Norte/Nordeste, incentiva o turismo e é cenário constante de filmes e novelas. Em uma delas, Velho Chico, um fato trágico aconteceu no dia 15 do mês passado, o afogamento do ator Domingos Montagner.

Nas margens do rio quinhentista, se destacam registros de romances famosos, rotulados de tragédias: Lampião e Maria Bonita foram mortos pela polícia alagoana em Angicos, num braço do rio que passa em Sergipe, em 28 de julho de 1938. O industrial Delmiro Gouveia, o primeiro homem a utilizar a potência hídrica do rio como força motriz, acabou assassinado perto da Cachoeira da Pedra, em 10 de outubro de 1917. Antes, em 1712, o bandeirante Pascácio de Oliveira Ledo, que desbravou parte do Sertão e Cariri da Paraíba, cometeu a façanha de atravessar o rio a cavalo, com a noiva grávida na garupa, para escapar da perseguição dos parentes da moça, que queriam matá-lo.

Agora, o desmatamento e as impurezas que atingem o São Francisco e suas margens, já ameaçam o Farol da foz do São Francisco, construído fora da arrebentação em 1873 e, hoje, dentro d’água. O avanço do mar forçou a evacuação dos moradores da Vila do Cabeço. Atualmente, nem os barcos podem circular nesta área, por causa do perigo formado pelos