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Bahia: Rui proibi o paredão, mas o tráfico e a violência estão liberados?

A realização de festas em ruas sem comunicação prévia às autoridades será proibida na Bahia. O anúncio foi feito pelo governador Rui Costa nesta quarta-feira (13), durante o lançamento da Operação Verão da Secretaria da Segurança Pública. De acordo com Rui, a orientação é para que a polícia apreenda equipamentos sonoros e os responsáveis por esses eventos.

A decisão foi informada após a morte de seis pessoas em um tiroteio em uma festa do tipo no bairro do Uruguai, na noite de ontem.

“Não vamos permitir mais nenhuma festa de paredão na Bahia. Para festas serem realizadas fechando ruas, as prefeituras precisarão autorizar e comunicar à Polícia Militar previamente. Caso não haja autorização prévia, a PM deverá apreender os equipamentos sonoros”, disse Rui.

Mais cedo, o governador afirmou que a violência cresceu por conta da miséria e disse que o tema precisava ser debatido de maneira mais ampla. “Insisto, a gente precisa fazer esse debate nacionalmente sobre o crime organizado, marco legal, tráfico de drogas. Para quem é consumidor, as pessoas se sentem ofendidas… Mas é fato. Quem está financiando a morte desses jovens infelizmente é o fluxo financeiro do comércio das drogas. A gente goste ou não. O debate precisa ser amplo”.

Crime

Um vídeo que circula nas redes sociais mostra momentos antes dos disparos. A festa toma conta da rua e várias pessoas ocupam as calçadas dançando e bebendo, ao lado do carro com o som. “Dizem que foram vários tipos de armas, pistolas, 38 (revólver). Só não tinha arma longa”, disse um morador da Rua 8 de Dezembro, onde o ocorreu o fato.

Testemunhas também relatam que um homem conhecido como “Binho” teria chegado ao local e os organizadores da festa teriam ficado com receio de acontecer uma briga e desligaram o som. Binho teria se irritado e começou a disparar contra as pessoas.

Os tiros duraram menos de cinco minutos, mas como a festa estava cheia, muitas pessoas foram atingidas. Segundo a Polícia Civil, um grupo armado chegou ao local onde acontecia uma festa do tipo “paredão” e efetuou vários disparos, houve confronto e cerca de 15 pessoas foram atingidas. Policiais do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa já estão em campo, realizando a apuração do caso.

O tráfico e a violência crescentes

As apreensões de cocaína na Bahia cresceram 1000% em 2020, na comparação com o ano anterior, segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP).Em números absolutos, foram apreendidos 600kg em 2019 e mais de sete toneladas no ano passado, aponta balanço.

As ações contra organizações criminosas renderam também aumento de 40% na quantidade de maconha apreendida. Em 2020 as polícias Militar e Civil, com apoios da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal, apreenderam 55 toneladas da erva. No ano anterior tinham sido 33 toneladas.

Quando o assunto é segurança pública, os indicativos baianos não são bons: metade das 10 cidades mais violentas do Brasil estão na Bahia, de acordo com o Atlas da Violência 2018, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Eunápolis, no sul do estado, e Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, estão entre as três cidades mais violentas do país, atrás apenas de Queimados, no Rio de Janeiro. Completam a lista Porto Seguro, Lauro de Freitas e Camaçari. A pesquisa realizou um levantamento das mortes violentas nos municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes. As informações têm como ano base 2016 e foram produzidas em cima do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde.

Novo Cangaço

A Bahia também lidera no âmbito nacional o número de ocorrências denominadas de “Novo Cangaço”, roubo a banco e a empresas de transporte de valores. Juntamente com Ceará e São Paulo, o estado concentra a maioria dos casos de assalto a carro-forte. Foram nove na Bahia, nove no Ceará e dez em São Paulo no primeiro semestre deste ano. Os dados são de um levantamento realizado pela Associação Brasileira de Transporte de Valores.

Morte de jovens e negros

A Bahia subiu no ranking negativo dos estados brasileiros que em 2019 registrou as maiores taxas de mortalidade violenta juvenil, ao lado do Amapá (1º) e de Sergipe (3º). No ano anterior, em 2018, as primeiras colocações foram ocupadas por Roraima, Rio Grande do Norte e Ceará. Os dados constam no Atlas da Violência, divulgado nesta terça-feira (31) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Bahia é o 3º estado em mortes violentas por causa indeterminada

A Bahia aparece em mais um ranking negativo do Atlas da Violência 2021. O estado é o terceiro com mais Mortes Violentas por Causa Indeterminada (MVCI) com 1.627 ocorrências em 2019, menos apenas que o Rio de Janeiro, que com 4.775 tem o maior número no país, e São Paulo na segunda posição com 4.133.

Feminicídio

Outro crime que tem ganhado com frequência os noticiários é o feminicídio. De acordo com dados do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA), de 2015 a 2017, foram registrados no órgão 41 casos de feminicídio e 15 de tentativas de crimes contra mulheres no estado. Na maioria das vezes, as vítimas possuíam a cor parda (61%) e integravam a faixa etária de 19 a 40 anos (57%).

Os números foram coletados na plataforma do Sistema de Automação da Justiça do TJBA, para compor o trabalho “O silêncio acabou”, coordenado pela Diretoria de Primeiro Grau. Os dados também mostram que 57% dos crimes foram cometidos com arma branca, e 39% deles à noite.