“Acredito que faremos uma transição e as pessoas deixarão de nos ver como uma empresa principalmente de mídia social para uma empresa do metaverso”. Foi assim que Mark Zuckerberg, dono do Facebook, desenhou o futuro da sua empresa, que agora passará a se chamar “Meta”.
A afirmação, feita em junho durante uma entrevista para o site especializado em tecnologia “The Verge”, já começou a ser colocada em prática. Além da mudança de identidade, a rede social divulgou recentemente um investimento de US$ 50 milhões para construir o tal metaverso.
Mas o que é isso?
Mark Zuckerberg chega para a apresentação do Galaxy S7, em Barcelona, enquanto a plateia usa óculos de realidade virtual
“Então Hiro [o protagonista de “Snow Crash”] na verdade não está ali. Ele está em um universo gerado informaticamente que o computador desenha sobre os seus óculos e bombeia para dentro de seus fones de ouvido. Na gíria, este lugar imaginário é conhecido como o metaverso.”
A descrição lembra a tecnologia de realidade virtual (VR, na sigla em inglês) – aquela dos headsets que se colocam na cabeça. Mas na visão de Zuckerberg e outros executivos do mercado, a novidade não se restringe somente a isso.
Ela deve envolver também a realidade aumentada (AR, na sigla em inglês), tecnologia que sobrepõe elementos digitais no mundo real, como os filtros que mudam os rostos das pessoas no Instagram ou no TikT
A intenção é misturar diversos elementos digitais com o mundo físico, como no filme “Minority Report”, estrelado por Tom Cruise, que interage com projeções feitas no ar.
Em um evento realizado nesta quinta (28), o Facebook demonstrou como imagina alguns elementos desse universo, como na imagem abaixo:
“Você pode pensar no metaverso como uma internet materializada, onde em vez de apenas visualizar o conteúdo, você está nele”, projetou Zuckerberg.
Para o dono do Facebook, as pessoas usariam óculos para visualizar itens digitais “por cima” do mundo real e “acessar” o metaverso a qualquer momento. A empresa, inclusive, trabalha em outros acessórios para ajudar a controlar e
É difícil dizer se um dia essa visão irá se concretizar, já que os produtos disponíveis atualmente não possuem essa capacidade (veja outros desafios mais abaixo).
A Epic Games, desenvolvedora do Fortnite, aposta alto no conceito e colocou algumas ideias em prática: o game já realizou shows virtuais, como o do rapper americano Travis Scott que reuniu 12,3 milhões de jogadores.
Em abril, a empresa levantou US$ 1 bilhão em uma rodada de investimentos para financiar “sua visão de longo prazo para o metaverso”.
Um dos pilares do metaverso é a ideia de reunir as pessoas nesses ambientes virtuais e o entretenimento deve ser o primeiro a explorar as possibilidades.
Cada um no seu quadrado?
Uma das grandes questões do metaverso é a interoperabilidade. Ou seja, o avatar de uma pessoa será o mesmo quando ela acessar o espaço criado pelo Facebook e o espaço criado pela Epic Games?
Os executivos têm falado que esse é o objetivo. No entanto, se o histórico do setor de tecnologia servir como bússola, não há garantias de que isso vá acontecer.
O Facebook, por exemplo, não é conhecido por ser uma plataforma aberta. Ao longo dos anos, a empresa adquiriu ou tentou adquirir os concorrentes que ameaçaram a sua existência, como ocorreu com o Instagram, em 2012.
A tecnologia, que forma a base dos NFTs (“token não fungíveis”, em tradução livre), poderia ser usada para comprovar que uma pessoa é dona de determinado item digital através de vários cenários diferentes do metaverso.
No Fortnite, as pessoas compram itens e skins (que transformam o avatar em um personagem específico) para ganhar status dentro do game. Há ainda pessoas que criam os itens digitais para ganhar dinheiro e marcas que decidem utilizar o game como vitrine.
Essa ideia de exclusividade, luxo e objetos de desejo do mundo físico também deve se estender ao metaverso.
Quais os problemas?
Ainda há muitos entraves tecnológicos:
- Não há dispositivos pequenos e potentes o suficiente que sejam capazes de oferecer a experiência imaginada do metaverso;
- Não se sabe se as pessoas estarão realmente dispostas a vestir um acessório para entrar no mundo virtual;
- Os headsets de realidade virtual mais avançados custam a partir de US$ 300 (R$ 1.670, na cotação atual) e ainda não são sucesso de vendas ao redor do mundo – em muitos países sequer são vendidos;
- Os ambientes digitais com centenas ou milhares de pessoas exigirão uma conexão com a internet melhor, algo que pode avançar com o 5G, que ainda está em seus primeiros passos ao redor do mundo.
Além desses obstáculos, existem questões em aberto sobre o controle das interações nesse ambiente. Há anos, as redes sociais enfrentam um problema crescente com a moderação de conteúdo – e a pressão por regulamentação e responsabilização tem aumentado.
Uma série de documentos vazados sugerem que o Facebook sabia da radicalização de usuários na rede social, mas demorou a tomar uma atitude, por exemplo. Em meio às notícias negativas, os investimentos no metaverso podem soar como uma tentativa de desviar os olhares do público para uma novidade.
O Facebook, inclusive, não está nessa jogada à toa. Em 2014, a empresa comprou a Oculus, empresa que fabrica headsets de realidade virtual, por US$ 2 bilhões e ainda busca recuperar esse investimento.
Outras preocupações com o metaverso incluem a coleta dos dados dos usuários, algo já discutido na era dos smartphones, e com uma possível vigilância constante.
A desigualdade social também pode criar um ambiente elitizado. Os aparelhos ainda são caros e em um recorte para o Brasil, ao menos 17% dos domicílios sem internet no Brasil sequer possuem internet – o número é maior nas regiões Norte e Nordeste.
Esses desafios já estão postos na internet, e no metaverso podem ganhar uma nova proporção. Apesar das muitas perguntas sem respostas, a novidade não tem afugentado os investimentos e as apostas das grandes empresas de tecnologia.
Quem mais está nessa?
Além da Epic Games e do Facebook, outras grandes empresas estão de olho nessa novidade.
- Roblox: a plataforma que permite a criação de joguinhos e ambientes tem falado abertamente sobre sua visão para o metaverso;
- Nvidia: conhecida por suas placas de vídeo, a empresa já mencionou o metaverso diversas vezes;
- Microsoft: a criadora do Windows disse em maio passado ter ferramentas de inteligência artificial e realidade mista (que mistura AR com VR) para ajudar empresas a desenvolverem “aplicativos do metaverso”;
- Snap: a empresa responsável pelo Snapchat trabalha em óculos de realidade aumentada e pode se tornar importante no segmento.
Tradução: Aproveitando o potencial da plataforma de realidade aumentada da Snap, a nova geração dos Spectacles permite que você sobreponha filtros diretamente no mundo à sua frente, para uma experiência imersiva.
Há ainda diversas startups tentando surfar nessa onda e atrair investimentos de risco.
Entre as chamadas “big techs”, algumas empresas ainda não fizeram muito barulho sobre o conceito, mas suas movimentações indicam que estão de olho na novidade.
O Google, por exemplo, tem aplicações em AR integrados à ferramenta de pesquisa e outros produtos, como o aplicativo Google Arts & Culture.
O presidente-executivo da Apple, Tim Cook, já elogiou a tecnologia de realidade aumentada diversas vezes, embora nunca tenha mencionado o metaverso.
A chinesa ByteDance, dona do TikTok, se movimentou recementemente no mercado com a compre da fabricante de headsets VR Pico e a desenvolvedora de jogos Reworld.
Já a Amazon tem uma presença muito forte em soluções de infraestrutura, que serão essenciais para concretizar a ideia de um universo acessado por centenas de milhares de pessoas simultaneamente.