BRASIL POLÍTICA

O recuo democrático do Brasil é organizado e comandado de dentro do Planalto

O Brasil vive um recuo democrático? Afinal as instituições seguem funcionando, dizem muitos. A revista “Economist” diz que a nota da democracia brasileira diminuiu e que América Latina foi a região em que houve o maior recuo democrático. Eu concordo com a revista. A democracia corre riscos no Brasil.
Quero usar um exemplo que está hoje publicado neste jornal: “A Polícia Federal afirmou ao Supremo Tribunal Federal que uma milícia digital atua contra a democracia e as instituições usando a estrutura do chamado gabinete do ódio”, assim abre a matéria do Aguirre Talento e Mariana Muniz, hoje no “O Globo”.
Isso significa que dentro do Palácio do Planalto, essa é a suspeita da PF e há muitos indícios disso, funcionários públicos que, como todos sabem, trabalham sob o comando informal do vereador e filho do presidente, Carlos Bolsonaro, disparam mensagens de ódio contra as instituições brasileiras. Entre os alvos, o principal é o Supremo Tribunal Federal. que é colocado como inimigo da atual administração. A imprensa é outro alvo.
Esse gabinete tenta tirar a credibilidade dos órgãos e dos jornalistas, e para abalar a confiança dos brasileiros no Supremo Tribunal Federal. E o que são essas milícias as quais o gabinete do ódio está ligado? São perfis falsos em sua maioria, amplificando o que alguns influenciadores financiados e apoiados pelo governo fazem: produzem mentiras e as divulgam. Foram importantes para a eleição de 2018, e serão mais fortes agora porque estão ligadas ao gabinete que está dentro do Planalto com funcionários pagos com os nossos impostos.
A mentira é usada como método por esse núcleo que nasce no Palácio do Planalto e se espalha nas redes sem qualquer impedimento. Um dos investigados por crimes digitais fugiu para o exterior e de lá é visitado por integrantes do governo. Isso é um dos exemplos. Há outros, diários e constantes.
Jair Bolsonaro é o primeiro presidente antidemocrático que assumiu o poder desde a redemocratização. E ele usa os poderes da presidência nesse combate às instituições. Ele executa um plano de enfraquecimento da democracia através de várias fórmulas, como a intervenção em instituições que deveriam ser independentes. A própria Polícia Federal ainda resiste, mas perdeu muito da sua autonomia com perseguição explícita a delegados e a nomeação de um diretor submisso, que se reporta ao presidente. O procurador geral da República dá sinais explícitos de vassalagem ao presidente. O Congresso foi comprado com as emendas do relator. As Forças Armadas ele tentou atrair para servir ao seu governo e não ao estado brasileiro.
E o governo liberou armas, e tirou o controle sobre armamento inclusive pesado, para que seus seguidores se armem porque ele quer ter à mão armas para intimidar adversários políticos e quem denuncia seus desmandos. Outra frente de enfraquecimento da democracia são as suas lives semanais nas quais fez todo o tipo de ataque à confiança no sistema eleitoral brasileiro. O presidente sempre quis que o brasileiro perdesse a confiança no processo eleitoral porque isso é parte do projeto autoritário. E usou inclusive informações sigilosas da Polícia Federal, que ele manipulou de forma leviana e irresponsável, para tentar desmoralizar a Justiça Eleitoral.
O país tem resistido, mas não tem sido fácil. Até quando a resistência manterá a democracia funcionando? Essa é a pergunta que nos ronda principalmente neste ano.