BAHIA

Médico baiano que atuou na vacina contra Covid diz que teve “metralhadora na cabeça” em abordagem policial;

Revoltado com a abordagem de policiais militares durante uma blitz em Salvador, o médico infectologista, Roberto Badaró, enviou uma carta ao comandante-geral da Polícia Militar da Bahia (PM-BA), coronel Paulo Coutinho, relatando uma situação ocorrida com ele e sua família e cobrando providências da entidade em relação ao caso.

De acordo com o relato de Badaró, ele e sua família foram parados uma blitz da PM, no último dia 5, na região do Canela, em Salvador. Na ocasião, segundo ele, os policiais agiram com “desrespeito à dignidade das pessoas e à integridade física e moral” dele e dos acompanhantes do veículos.

No documento, o infectologista acusa ainda os militares de agirem de forma violenta e “ameaçando a todo tempo a prática de atos de agressão física e ameaças contra nossas vidas”, inclusive com arma de fogo apontada para ele. Badaró diz também que os PM’s não solicitaram documentos pessoais, os fizeram descer do veículo, e partiram para uma “revista agressiva e violadora dos direitos básicos de um cidadão de bem”.

“Tenho absoluta certeza de que esta não deve ser a orientação do comando da Polícia Militar da Bahia, que, infelizmente, revela despreparo nas abordagens de rotina ou mesmo extraordinárias. O Estado não concede permissão a policiais militares para cometerem crimes contra os cidadãos de bem, sem qualquer motivo ou justificativa, apenas por terem o poder de portar armas de guerra”, diz um trecho da carta.

“Peço que determine a imediata apuração dos fatos aqui relatados, aplicando as normas disciplinares cabíveis que regem essa digna e respeitada Corporação, punindo, se for o caso, ou pelo menos que se retrate com as devidas desculpas, pelo evidente excesso e desrespeito, contra mim e contra minha família”, diz Badaró em outro trecho da carta.

O BNews entrou em contato com a PM, que afirmou que toda a ação decorria de forma técnica, apesar de um passageiro do veículo se exaltar com a abordagem de praxe. “(… )Foi dada voz de parada, com os policiais empunhando seus armamentos em postura relativa, de fato, voltada na direção do automóvel, como preconiza a técnica, tendo sido determinado que fosse desligado o veículo, a fim de serem apresentadas as documentações. Neste momento, um dos ocupantes, que se encontrava no banco do carona, passou a proferir gritos em desfavor dos policiais para que não apontassem arma em sua direção, saindo do veículo de rompante, desrespeitando os militares em serviço, esbravejando por diversas vezes não se tratar de bandido, motivo pelo qual não deveria ser abordado, apontando dedos em riste para os policiais, inclusive para o major PM, batendo a porta do veículo de maneira agressiva, utilizando palavras de calão quando e deu ordem para o motorista não apresentar os documentos.”

Apoio de políticos

Ao BNews, Badaró afirmou que após o episódio recebeu apoio de poíticos baianos, a exemplo dos senadores Otto Alencar, Angelo Coronel e Jaques Wagner e do ex-senador Roberto Muniz.

“Tive o apoio dos três senadores da Bahia, Otto Alencar, Angelo Coronel e Jaques Wagner, e do ex-senador Roberto Muniz. Todos foram solidários. Houve uma mobilização social entendendo que aquilo foi fora do limite, um absurdo que não condiz com a orientação da PM”, disse.

Roberto Badaró diz ainda que a ênfase do seu protesto é para que as forças de segurança “adotem protocolos para que isso não se repita” “O pano de fundo dessa minha denúncia é para que haja a construção de protocolo”.

Passados três dias do ocorrido, Badaró diz ter superado o susto inicial que a abordagem provocou. “Digeri bem, sou superior a essas coisas. Na hora fiquei chocado…fiquei chateado uns dois dias, mas depois refleti”.

“A repercussão do que aconteceu traz uma reflexão muito grande”, pontua, ao lembrar ainda da solidariedade que diz ter recebido de desembargadores do Tribunal de Justiça da Bahia e também da deputada federal Alice Portugal (PCdoB).

Dentre as reflexões que fez, Badaró contou a reportagem que levou em conta a boa relação que tem com a PM-BA, da qual já recebeu condecorações importantes, além do fato de ter assistido a mais de 200 policiais e bombeiros vítimas da Covid-19 durante a pandemia “sem nenhum honorário”.

“Ainda não tive nenhum retorno do comando da PM”, detalha sobre a carta enviada na última quarta (6), com pedido de apuração e providencias.

Por: BNews