Boicotar para “enviar uma mensagem” ou viajar ao Catar para “ver por si mesmo” o que acontece? Torcedores ao redor de todo o globo abordam a primeira Copa do Mundo organizada em um país árabe com preocupação, mas o ceticismo dos europeus é menos palpável em outras regiões do planeta.
“Não poderia fazer uma festa em um cemitério”, disse Fabien Bonnel, fiel torcedor da seleção francesa, membro do grupo ‘Irrésistibles Français’.
Fazendo referência ao número de mortos nas obras das infraestruturas para o torneio, dificilmente quantificáveis, este torcedor resume com esta frase sua posição de boicote total ao Mundial.
“Não penso em ver um jogo sequer. Se forem centenas de milhares a fazer isso, servirá para enviar uma mensagem e talvez tenha um impacto nas audiência, nos patrocinadores e em todo o negócio da Fifa”, acrescentou.
Esta decisão individual não se transfere ao seu coletivo de torcedores, que decidiram não se posicionar.
Assim como Fabien Bonnel, vários fãs escolheram boicotar o torneio, especialmente na Alemanha, onde vários grupos de ultras, entre outros os do Borussia Dortmund, mostraram nos últimos dias sua posição contra o Catar através de cartazes nos estádios.
Mesma situação para o ‘3LionsPride’, um grupo inglês de torcedores LGBTQ+, que não viajará para a Copa: “Esperamos ficar em silêncio enquanto a Fifa nos incentiva a respeitar uma cultura que não aceita as vozes, fazendo um apelo a ‘um evento limpo sem homossexuais nem perturbadores’. A hipocrisia é repugnante”.
Estas desistências não impediram o Comitê de Organização do Mundial de obter sucesso, vendendo 2,89 milhões de ingressos de 3,1 milhões disponíveis, segundo um balanço feito em meados de outubro.
Orçamento
Apesar das preocupações, éticas e orçamentárias, torcedores da América Latina viajarão em massa ao Catar, com 70 mil mexicanos e 30 mil argentinos, segundo fontes diplomáticas.
“Claro que temos preocupações a respeito da forma como as mulheres são tratadas no Catar, mas nos preparamos bem. Fomos aconselhadas a nos vestir diferente, por exemplo, para ir à praia”, diz Barbara Coubrey, uma torcedora argentina de 45 anos.