BAHIA CULTURA

Festa em homenagem ao samba completa 50 anos de resistência na Bahia

Quando o sábio e genial compositor baiano escreveu esses versos, ele sabia com certeza que o baiano também gosta de sambar e muito. E não é á toa que temos uma celebrada tradição desse autêntico ritmo nacional que, apesar de hoje ser mais cultuado no Rio de Janeiro, dizem os historiadores que nasceu na Bahia.

E é justamente um baiano chamado Edil Pacheco que vem ao longo de 50 anos realizando o chamado Dia do Samba. A data é comemorada dia 2 de dezembro e reúne os bambas, como aconteceu este ano mais uma vez na Cantina da Lua, do mestre Clarindo Silva, e que abrigou a galera para uma festa sempre animada. Edil pretendia realizar a festa em praça pública como sempre aconteceu. Mas, ultimamente, por falta de apoio dos órgãos que deveriam incentivar tal iniciativa, ele conta com o auxílio de abnegados que não deixam o samba morrer.

Só para lembrar, o Dia do Samba em Salvador foi criado em 2 de dezembro de 1963 em homenagem ao compositor mineiro Ary Barroso. Na década de 1930, ele conheceu a capital baiana e compôs a música “Na Baixa do Sapateiro”, na qual expressava todo seu amor pela Bahia: “Eu me descobri na Bahia. Os seus ritmos, seus candomblés, suas capoeiras, sua gente foram uma revelação para mim”, afirmou Barroso em uma entrevista em 1962.

Desde que iniciou o evento há 50 anos, em 1972 com o nome de “Noite do Samba e Dendê”, no antigo Campo da Graça, o cantor, compositor e sambista Edil Pacheco nunca deixou, como se diz na gíria, “a peteca cair”. Com apoio e incentivo, principalmente de Gilberto Gil, desde os tempos em que ele era vereador em Salvador até chegar a Ministro da Cultura, Edil faz a festa. E como tem muito prestigio, já trouxe para o evento grandes nomes da MPB.

Aliás com Gil, Edil tem uma história interessante como ele relatou: “Em 1987, fomos participar de um evento no Benin e lá conversei muito com Gilberto Gil sobre a festa do Samba. De volta ao Brasil, fizemos um grande evento na Praça Municipal, da qual ele participou. Anos depois, já Ministro da Cultura, mais uma vez se fez presente no Dia do Samba”.

A lista é enorme. Além de Gil, já compareceram Chico Buarque, Caetano Veloso, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, João Bosco, Fafá de Belém, Beth Carvalho, Alcione, Ivan Lins, João Nogueira (pai de Diogo Nogueira), Mart´nália e muitos outros. Das três grandes sambistas, apenas a saudosa Clara Nunes não veio. Mas ela gravou de Edil a música Filhos de Gandhy.

Também gravaram canções de Edil as saudosas Beth Carvalho, com Siriê, e Gal Costa, com o frevo Estamos Aí. Já Alcione, que continua com a gente firme e forte comemorando 50 anos de carreira, registou Ara Ketu, outro hit do compositor baiano que circula com desenvoltura entre as várias vertentes da música popular brasileira.

Em território baiano, Edil faz parte de um grupo de grandes artistas que honram o samba da Bahia (que é diferente do samba carioca, porque o nosso bebe no chamado samba do recôncavo, mais cadenciado). Ao lado de Riachão, Batatinha, Ederaldo Gentil, Firmino de Itapoã (todos esses já nos deixaram), Nélson Rufino, Walmir Lima, Chocolate da Bahia, Gal do Beco, Roque Bentequê, entre outros, Edil continua na batalha, interagindo com outros nomes como Juliana Ribeiro e Gerônimo.

Mesmo enfrentando todas as dificuldades que vão da parte financeira até a pandemia da Covid-19, que suspendeu a festa durante dois anos, Edil Pacheco sonha em voltar a fazer a festa em praça pública, atraindo a multidão que sempre compareceu, sambou e cantou com seus ídolos. Tudo de forma gratuita e sempre no mais alto astral.

Em conversa com o Baú do Marrom, Edil falou que espera tempos melhores: “Este ano foi muito difícil para a gente. Mas, espero que em 2023, quando o Dia do Samba comemora 51 anos, tenhamos mais apoio. Para isso, vou começar a preparar o evento logo após o Carnaval, fazer os contatos e tentar retomar a festa como gostamos de fazer”.

Fonte: Correio da Bahia