A derrota acachapante em Salvador, seguida da vitória apertada em Camaçari, no segundo turno, colocou os três principais líderes do PT na Bahia em posições distintas. Enquanto o senador Jaques Wagner (PT), semanas depois do primeiro turno, resolveu assumir integralmente a culpa pela desastrada escolha do candidato que o governo apresentou na capital baiana, o governador Jerônimo Rodrigues e o ministro Rui Costa (Casa Civil) não pouparam esforços para comemorar na tampa, ao lado do eleito, o sucesso do grande esforço que levou à eleição de Luiz Caetano à Prefeitura da principal cidade da região metropolitana.
Assim, o primeiro ficou associado a uma grande derrota, ao passo que os dois outros à batalha que levou à vitória. A celebração é mais do que justa para o governador e o ministro. Afinal, os dois arregaçaram as mangas para garantir a eleição de um candidato que passou ao segundo turno numa disputa apertadíssima com o adversário e só levou a melhor na segunda rodada eleitoral porque Jerônimo e Rui assumiram a responsabilidade de lhe assegurarem o mandato. Foram eles que estiveram à frente do trabalho de mobilização que incluiu a presença na cidade de todo o secretariado estadual, das polícias e de mais quem pudesse ajudar antes e no decisivo dia da eleição.
Por este motivo, mais do que a Wagner, é aos dois que Caetano deve gratidão. Com certeza, ainda mais do que Jerônimo e Rui, o prefeito eleito sabe o quanto sua vitória foi suada e ele precisou de apoio. E que, se não fosse a disposição de ambos em ajudá-lo, não estaria agora envolvido com a preocupação de montar o futuro secretariado, o qual necessariamente passará por entendimentos com Rui, Jerônimo e Wagner, nesta ordem. Se foi o governador que consentiu com a operação ou o cerco que as forças políticas, administrativas e policiais fizeram a Camaçari em favor de Caetano, Rui assumiu a liderança do processo, tal qual fez na campanha do sucessor.
Mas eles não deixarão Caetano livre. O prefeito eleito terá que escolher a equipe do primeiro escalão atendendo a indicações de ambos e também de Wagner, sob o argumento muito inteligente dos três de que querem ajudá-lo a fazer uma grande gestão na cidade. Além de lhes assegurar posições na administração, Caetano tem ainda outros compromissos a cumprir com Jerônimo e Rui em 2026, ano da sucessão estadual. Em relação ao governador, vai fazer o que for possível e necessário para assegurar sua reeleição, já que este também foi o objetivo da reconquista de Camaçari das mãos do União Brasil, que a controlou nos últimos oito anos.
No caso de Rui, a missão será mais espinhosa, já que envolve o propósito de fazê-lo candidato ao Senado ao lado de Wagner na chapa com que Jerônimo vai concorrer de novo ao governo. No grupo governista, Rui enfrenta a dificuldade de impor seu nome à disputa porque pertence ao PT, partido que, com ele, estaria indicando três dos quatro lugares na chapa, e tem um concorrente de peso, o senador Angelo Coronel (PSD), cujo mandato expira junto com o de Wagner e, como o petista, não abre mão de renová-lo. A tarefa de Caetano em 2026 será a de ajudar a sustentar o nome de Rui na corrida ao Senado, movendo para isso céus e terra, como dizem que sabe fazer como ninguém quando está no poder.
*Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.
Raul Monteiro*