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Opinião: O Massacre Ignorado na Nigéria

A realidade que se desenrola na Nigéria é tão grave quanto a que ocorre em Israel, mas a reação mundial demonstra um desequilíbrio que não pode ser ignorado. Quando um ataque acontece em território israelense, a notícia corre as redações, vira manchete nos grandes jornais e ocupa espaço em pronunciamentos oficiais. Já as centenas de milhares de cristãos mortos na Nigéria ao longo dos últimos anos permanecem quase invisíveis aos olhos da mídia internacional. O país africano, com mais de duzentos e vinte milhões de habitantes, vive um drama humano de proporções gigantescas, mas sem o mesmo eco de indignação que se levanta em defesa de outras causas.

Na Nigéria, grupos como Boko Haram, Estado Islâmico da África Ocidental e milícias de pastores Fulani jihadistas espalham terror entre comunidades cristãs. Aldeias inteiras foram arrasadas, igrejas e escolas destruídas, famílias massacradas ou expulsas de suas casas. A divisão religiosa do país, com o norte de maioria islâmica e o sul de maioria cristã, potencializa ainda mais as tensões. As autoridades locais até tentam conter a escalada, mas suas respostas são frágeis e lentas, incapazes de impedir o avanço desse massacre que já atravessa mais de uma década. Enquanto isso, a indiferença da imprensa global e da comunidade internacional contribui para que a tragédia prossiga sem a devida atenção.

O contraste é evidente. Quando minorias sofrem perseguição em outras regiões, mobilizam-se debates, campanhas, pressões diplomáticas e até sanções econômicas. No entanto, quando os cristãos são vítimas em lugares onde estão em minoria, como na Nigéria, Somália, Moçambique ou Paquistão, a regra parece ser o silêncio obsequioso. A ONU e órgãos de defesa dos direitos humanos emitem notas tímidas, mas não assumem posições firmes. Fala-se muito em liberdade religiosa como um valor universal, mas a seletividade nas reações mostra que alguns sofrimentos são mais “noticiáveis” do que outros, e isso mina a credibilidade da defesa dos direitos humanos.

O mundo precisa despertar para o perigo desse duplo padrão. O que acontece na Nigéria é um massacre em andamento, cruel e desumano, mas mantido nas sombras pela seletividade da mídia e pela indiferença das instituições internacionais. É inadmissível que a morte de um único cidadão em Israel receba espaço imediato e global, enquanto milhares de cristãos, assassinados por sua fé na África e na Ásia, sejam tratados como estatística secundária. Não se trata de competir em dor, mas de exigir que toda vida tenha o mesmo valor. Se a liberdade de crença é realmente um direito universal, ela não pode ser defendida apenas em alguns cenários. O silêncio diante desse massacre ignorado é uma forma de cumplicidade, e é hora de romper com ele.

Teobaldo Pedro
Juazeiro – BA

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