JUAZEIRO

Opinião: Quando a frieza ofusca a fé

Muitas vezes, a espiritualidade parece perder o frescor. O culto não desperta mais o coração, a oração se torna mecânica, a leitura da Palavra parece distante, e a presença de Deus parece algo que se toca apenas por obrigação. Ainda assim, existe um anseio silencioso, profundo e quase universal: a saudade do primeiro amor, aquele que moveu o coração a se entregar plenamente. Apocalipse 3 lembra que há comunidades que se afastaram, que mantêm rituais mas perderam a chama da paixão espiritual, e o convite é claro: é tempo de lembrar de onde se partiu e de reacender o desejo de estar verdadeiramente com Deus. É uma experiência que começa no íntimo, no encontro individual, antes de se refletir no coletivo, porque toda relação com Deus precisa de raízes sólidas na intimidade pessoal.

A frieza espiritual não surge do nada. Muitas vezes é fruto de desgaste emocional, de decepções, do ritmo acelerado da vida contemporânea e de uma religiosidade que se torna aparente, ritualística, sem tocar a essência da alma. Há milhões de pessoas pelo país, em Igrejas ou fora delas, que mantêm uma prática vazia ou já abandonaram completamente a fé organizada, mas que secretamente anelam se reconectar com Deus, desejar voltar a ser como foram no dia em que conheceram a alegria da salvação. Esse estado revela que a espiritualidade verdadeira não se mede apenas por frequência, mas pela profundidade da relação íntima estabelecida com nosso Deus.

O caminho para reconstruir essa chama começa na pessoa. A intimidade diária, silenciosa e honesta com Deus, seja em oração, leitura, meditação ou confissão, cria raízes sólidas. É nesse espaço que a fé se fortalece e a alma se restabelece. A koinonia, a comunhão fraternal, torna-se plena quando os corações já estão nutridos na intimidade com Deus. O encontro com irmãos não substitui o relacionamento pessoal, mas o amplia e celebra, oferecendo encorajamento, ensino e cuidado mútuo. Quando a intimidade individual é cultivada, o coletivo floresce de forma saudável e significativa em Cristo.

Portanto, mesmo diante de desânimos, frieza e rotina espiritual, há caminhos de renovação. Lembrar do Salmo 84 é lembrar que há mais valor em um único momento de genuína presença com Deus do que em milhares de ações vazias. Voltar ao primeiro amor exige coragem, honestidade consigo mesmo e paciência. Permitir que a alma seja transparente diante do Pai, restaurar o prazer de estar com Ele, buscar a comunhão com outros crentes a partir dessa profundidade, e caminhar com constância e amor são passos concretos para reacender a vida espiritual. A restauração é possível, porque toda relação com Deus é pessoal, íntima e relacional, e quando se encontra no individual, naturalmente se expande para tocar o coletivo.

Teobaldo Pedro.
Juazeiro-BA.

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