ARTIGO

Polícia e carnaval.

O carnaval, sob a ótica governamental, possui características significativas para os políticos, especialmente quando se trata do carnaval de uma capital – o principal do país, perdoem-me, colegas pernambucanos. Afinal, esse é o momento em que o governante – refiro-me aos políticos no poder; aos que fazem oposição, aguardem – terá, de certa forma, a oportunidade concentrada de demonstrar a eficácia da implementação das políticas públicas nas mais diversas áreas: social, cultural, de saúde e, claro, da segurança pública, setor fortemente mobilizado durante o evento. Já para aqueles que não estão no comando da máquina, resta apontar a ausência de qualquer um desses elementos e está feita a crítica.

Uma das forças motrizes do carnaval, a Polícia Militar da Bahia, no âmbito da comunicação pública, tem adotado um posicionamento mais leve e humanizado. Minha observação se baseia no que é transmitido institucionalmente e na forma como o relacionamento da corporação é apresentado nas redes sociais e outros meios de comunicação.

Chamou minha atenção um vídeo que mostra uma briga entre dois homens, já inclinados a provocar uma confusão generalizada. A clássica cena cinematográfica: o cordão de militares se aproximando e, para quem assistia presencialmente, o espírito do “salve-se quem puder”; muitos fugiram.

Poderia ser apenas mais um registro da polícia controlando uma crise. No entanto, a peculiaridade estava na escolha de quem deveria receber a “lição pedagógica”. Afinal, o carnaval deve ser uma festa pacífica e, para aqueles que não entenderam, há quem se disponha a “educá-los”.

Os personagens dessa história eram um homem branco e um homem negro. E, obviamente, o escolhido para ser agredido foi o negro. Seis policiais militares desferiram golpes de tonfa contra um único indivíduo.

O episódio me fez lembrar de um trecho do livro do sociólogo José de Souza Martins, referência em pesquisas sobre linchamento. Em sua obra Linchamentos: A Justiça Popular no Brasil, ele afirma: “Mesmo crimes graves cometidos por brancos podem ser julgados com relativa brandura em comparação ao rigor que os linchadores esperam pelo mesmo crime praticado por um negro”.

Em uma entrevista concedida à BBC em 2022, Martins fez uma reflexão ainda mais instigante: “Nos casos que estudei, não é necessariamente a cor da pele ou a raça a motivação inicial para linchar. Nos primeiros minutos da violência, esse é o quadro. No decorrer do ato, se a vítima for negra, da metade em diante de sua duração, o índice de crueldade tende a aumentar em comparação com o caso idêntico de uma pessoa branca”.

Enfim, acredito que “o buraco é muito mais embaixo”. Existem centenas de teorias – e as menciono aqui no melhor sentido da palavra, como lentes para enxergar – capazes de explicar esse fenômeno patológico que se manifesta no comportamento de alguns policiais.

Resta-nos, antes de tudo, condenar.

Luiz Guilherme Teixeira

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