SAÚDE

Tadalafila como “pré-treino” preocupa especialistas e cresce entre jovens

Medicamento indicado para disfunção erétil e hiperplasia prostática é cada vez mais consumido sem prescrição, inclusive como pré-treino. Em 2024, foi o 5º genérico mais vendido no país

O uso indiscriminado da tadalafila tem gerado preocupação entre profissionais da saúde. Originalmente indicada para o tratamento da disfunção erétil e da hiperplasia prostática benigna, a substância tem sido consumida por homens jovens sem qualquer prescrição médica, inclusive como “pré-treino” em academias. A prática ajuda a explicar o salto nas vendas do medicamento: segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos e Biossimilares (PróGenéricos), a tadalafila foi o quinto genérico mais vendido no Brasil em 2024, com 61,2 milhões de unidades comercializadas, de acordo com dados da pesquisa Pharmaceutical Market Brasil (PMB), da IQVIA.

De acordo com o urologista Felipe Nogueira, do Instituto de Educação Médica (IDOMED), o uso fora das indicações clínicas representa riscos importantes. “O uso recreativo da tadalafila, especialmente como pré-treino, pode provocar queda de pressão arterial, tontura, palpitações e até desmaios. Além disso, há risco de dependência psicológica e o agravamento de doenças não diagnosticadas”, alerta.

A prática esportiva da musculação vem crescendo e sendo amplamente difundida nas redes sociais. É comum encontrar posts e “memes” que citam a tadalafila como recurso para aumentar a vascularização e o desempenho físico nos treinos. Muitos praticantes de musculação têm promovido, ainda que de forma informal, o uso do medicamento com essa finalidade. No entanto, não há respaldo científico para esse tipo de uso, e os especialistas destacam que os efeitos colaterais podem ser graves.

O farmacêutico e professor Fernando Vanraj, também do IDOMED, chama atenção para os perigos do uso da tadalafila sem acompanhamento profissional. “O uso indiscriminado desse medicamento é uma realidade crescente e preocupante. Entre os riscos mais graves estão priapismo, cefaleia, perda repentina da audição e eventos cardiovasculares sérios, como infarto do miocárdio, morte súbita cardíaca, AVC, dor torácica, palpitações e taquicardia”, explica.

Vanraj destaca ainda os perigos da utilização da substância como pré-treino. “Mesmo em doses menores, o uso da tadalafila com essa finalidade pode aumentar a probabilidade de insuficiência cardíaca, arritmias, infarto agudo do miocárdio e outras doenças vasculares. Além disso, é comum o surgimento de dores de cabeça e alterações na pressão arterial, o que agrava o risco para quem treina intensamente sem supervisão médica.”

Segundo o farmacêutico, embora a tadalafila não interaja diretamente com o álcool, o seu uso não deve ser feito em associação, especialmente o tadalafila não deve ser combinado com outros medicamentos vasodilatadores ou que atuam sobre a função cardiovascular. “A associação inadequada pode provocar quedas bruscas na pressão arterial, levando a complicações graves”, alerta.

Entre os efeitos colaterais do uso indevido estão cefaléia, congestão nasal, dores musculares, distúrbios visuais e priapismo, condição caracterizada por ereções prolongadas e dolorosas que exigem atendimento médico imediato. Além disso, o uso crônico sem diagnóstico adequado pode mascarar doenças como diabetes, problemas hormonais e distúrbios cardiovasculares.

Para os profissionais, o uso racional de medicamentos deve ser prioridade, especialmente em casos em que a automedicação é estimulada por modismos. “A disfunção erétil, por exemplo, pode ser sintoma de uma condição clínica mais grave. Tratar apenas com medicamentos, sem investigar a causa, pode atrasar diagnósticos e comprometer a saúde do paciente”, reforça o urologista Felipe Nogueira.

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