BRASIL ECONOMIA

Bancos e governo têm demorado para liberar crédito

Por mais que já tenham anunciado diversas medidas de crédito durante a pandemia da covid-19, o governo e os bancos brasileiros ainda não conseguiram fazer esse dinheiro chegar às micro e pequenas empresas. Por isso, a comissão mista do Congresso Nacional que analisa as ações do Executivo no enfrentamento ao novo coronavírus vai colocar “frente a frente”, hoje, as entidades que representam os pequenos negócios com o Ministério da Economia, o Banco Central e os bancos públicos. E o presidente da Confederação Nacional das Micro e Pequenas Empresas e dos Empreendedores Individuais (Conampe), Ercílio Santinoni, antecipou ao Correio o que os pequenos vão dizer ao governo e aos bancos. Segundo ele, muitos empresários têm passado mais de 15 dias esperando para ouvir um “não” dos bancos e não conseguem resistir por muito mais tempo. Por isso, Santinoni alerta que, se esse problema do crédito não for resolvido logo, milhares de micro e pequenas empresas vão fechar as portas, aprofundando o avanço do desemprego e a queda do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.

Qual é a situação dos micro e pequenos negócios hoje?

Os pequenos foram os mais prejudicados pela pandemia, porque não têm capital próprio nem o capital de giro. Nós nos sustentamos com o dinheiro das vendas, mas paramos de vender, e as contas continuaram a chegar. Pelas reivindicações que recebemos, imaginamos que pelo menos 2/3 dos 15,8 milhões das micro e pequenas empresas vão precisar de crédito para sair dessa.

O governo anunciou algumas medidas para tentar resolver o problema. O crédito começou a chegar à ponta depois disso?

Não. Faltou rapidez na oferta de crédito para o pequeno, e mesmo essas medidas têm se mostrado difíceis. A Caixa tem uma linha com aval do Sebrae, mas está demorando demais a responder os pedidos de financiamento e está rigorosa demais na liberação dos recursos. Muita gente acaba esperando 15 dias por um “não”. O Pronampe até tem atendido algumas pessoas, mas também está recusando muitos pedidos. E muita gente já até desistiu dele, porque ligou várias vezes no banco e ainda estava em regulamentação. Demorou demais a chegar e só está funcionando na Caixa, no Banco do Brasil e no Banco de Minas Gerais.

O governo ainda aposta no Pronampe como solução para as MPEs. O senhor acredita que esse problema ainda pode se resolver quando mais bancos aderirem ao programa?

Pode ajudar alguns negócios, mas não todos, porque alguns podem desistir ou fechar antes e porque o dinheiro não vai ser suficiente. Pensávamos que os R$ 15,9 bilhões de garantias seriam alavancados até R$ 159 bilhões. Mas os bancos só vão emprestar pouco mais que R$ 15,9 bilhões, para ter garantia quase total. Não é suficiente. Considerando o número de pequenas empresas e a carteira de crédito desse setor, seriam necessários cerca de R$ 200 bilhões de crédito para conseguirmos uma normalidade.

O que a Conampe vai pedir, hoje, então?

Sabemos que o governo não tem condições de liberar todo esse crédito. Então, vamos reivindicar uma simplificação na análise de crédito dos bancos. Sabemos das limitações dos bancos, mas é preciso repensar isso. Sabemos que os bancos não querem emprestar para quem está negativado, por exemplo, mas muita gente ficou negativado agora. Uma coisa é ser um devedor contumaz, outra é ter perdido a capacidade de pagamento na pandemia. Então, tem de parar de pensar que o pequeno tem o maior risco de inadimplência, e fazer a parte deles. Mesmo que os recursos não sejam suficientes para todos, pelo menos alguns conseguiriam se financiar assim.

Qual é o risco de esse problema não ser resolvido?

Até agora, 3% dos micro e pequenos negócios já fecharam na pandemia. Mas, pelo menos mais 6% ou 7% podem fechar neste mês de julho. As empresas estão endividadas e não vão conseguir reabrir ou continuar com as portas abertas se o dinheiro não chegar logo. E isso pode agravar a crise da economia brasileira, porque os pequenos respondem por 27% do PIB e por 52% dos empregos registrados em carteira no país. Quando uma empresa fecha, ela dispensa seus funcionários, as pessoas ficam sem renda e param de comprar, aí outro pequeno negócio perde. É uma corrente.

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