Um grupo Internacional de Engenharia de Controle para Enfrentamento do Covid-19 identificou uma “mudança atípica” nos dados de recuperados da Bahia nos últimos 12 dias. Os especialistas estudam os dados da pandemia no estado e no Brasil e aplicam cálculos matemáticos para traçar modelos epidemiológicos e sistemas computacionais que possibilitem previsões e tomadas de decisão para o controle da Covid-19 (entenda melhor aqui).
Um dos pesquisadores do grupo, o professor Marcus Americano, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), explica que eles notaram a mudança, mas ainda não sabem apontar o motivo. Os dados podem ser atribuídos a inúmeros fatores, que serão investigados pelo grupo.
“A gente não sabe o porquê, basicamente foi uma mudança muito drástica no número de recuperados, que subiu de forma atípica. Obviamente que não representa a realidade”, disse Marcus. “Pode ter sido simplesmente pelo registro de dados, uma mudança de protocolo, ou na comunicação entre as secretarias de saúde dos municípios, mas houve uma alteração muito forte que afetou nossa curva epidêmica”, acrescentou.
O professor da Ufba ressalta que a mudança atípica reflete no número de infectados ativos, e o resultado é que torna difícil a identificação do estágio na pandemia na Bahia. “Hoje a gente não tem como dizer qual a situação epidêmica verdadeira no estado”, argumentou Americano.
No período citado pelo professor, o registro de recuperados da Covid-19 na Bahia, com base no boletim da Secretaria da Saúde (Sesab), saltou de 91.096 (em 16 de julho) para os atuais 132.944. Uma diferença de 41.848, ou 45%. Enquanto os casos ativos foram de 22.584 para 12.938 no mesmo período. Os casos totais passaram de 116.373 para 149.109.
A Sesab explicou que os casos ativos são monitorados pelo aplicativo Monitora e pelo Telecoronavírus. E que “como regra geral, desde que não esteja internado, se considera pacientes recuperados/curados todos aqueles que passaram de 14 dias desde o início dos sintomas”. Sobre o cálculo do número de recuperados e ativos divulgado diariamente, a pasta explica que se trata do resultado da subtração dos casos confirmados, menos os óbitos, menos os casos recuperados.
RESPOSTA ‘ÓTIMA’ À PANDEMIA
Além de Marcus, integram o estudo os especialistas Igor Pataro da Universidade de Almería na Espanha, e Marcelo Menezes Morato e Julio E. Normey Rico da Universidade Federal de Santa Catarina. Eles ainda trabalham em conjunto com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Rede CoVida e o Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs).
Os pesquisadores analisam os dados da pandemia no sentido de otimizar fatores de saúde e econômicos de maneira que se minimize o número de leitos clínicos e de UTI. Dados como esses são os indicadores utilizados, por exemplo, pela prefeitura de Salvador para a flexibilização da quarentena e reabertura do comércio e das atividades.
“Nossa proposta, com base nos modelos matemáticos, é um sistema de controle que calcula o melhor distanciamento social possível considerando aspectos econômicos e da saúde, a fim de que possa minimizar o uso de leitos”, explicou Marcus.
Os estudos até o momento indicam que, do ponto de vista da saúde, o ideal seria a adoção de um lockdown, que é o fechamento total. A medida foi sugerida para Salvador também pelo Comitê Científico do Consórcio Nordeste (lembre aqui). No entanto, do ponto de vista econômico o fechamento total é um problema.
Diante disso, os pesquisadores calculam matematicamente medidas sustentáveis com uma ponderação entre economia e saúde. Marcus Americano explica que nesse sentido seria necessário um cálculo semanal de grau de distanciamento necessário para manter a epidemia controlada sem afetar totalmente a economia.
“Mapear o isolamento social, a fim de propor uma porcentagem de distanciamento que iria determinar o fechamento de X% do transporte, do comércio de utensílios, academias, etc”, explicou.
Fonte: Bahia Notícias