O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) atenta contra o acesso à informação e a liberdade de expressão ao bloquear perfis de jornalistas, veículos, políticos e críticos nas redes sociais, afirma um relatório publicado nesta quinta-feira (19) pela ONG Human Rights Watch. A organização identificou ao menos 176 contas bloqueadas pelo presidente, incluindo perfis do UOL no Instagram.
Em paralelo aos bloqueios a perfis críticos, Bolsonaro já reclamou de uma suposta “censura” nas redes a pautas defendidas pela direita. Na semana passada, o presidente disse que pretende enviar ao Congresso Nacional um projeto de lei sobre o assunto. Até a noite de ontem, Bolsonaro tinha 6,9 milhões de seguidores no Twitter, 14,2 milhões no Facebook, 18,6 milhões no Instagram e 3,49 milhões no YouTube.
Maria Laura Canineu, diretora da ONG no Brasil, disse ver os bloqueios feitos pelo presidente como forma de excluir os críticos do debate público e vedá-los prestação de contas que um líder eleito deve à população.
“Ele está tentando eliminar de suas contas pessoas e instituições que dele discordam para transformá-las em espaços onde apenas aplausos são permitidos. É parte de um esforço mais amplo para silenciar ou marginalizar os críticos”, observou.
O levantamento aponta o bloqueio de 13 contas institucionais. No Instagram foram dois perfis do UOL, e no Twitter foram contas dos veículos Congresso em Foco, Repórter Brasil, Aos Fatos, Diário do Centro do Mundo, O Antagonista e The Intercept Brasil, e das organizações Anistia Internacional, Repórteres sem Fronteiras, Observatório do Clima, além da própria Human Rights Watch.
Nesta semana, o TSE mandou suspender repasses financeiros a perfis que espalhavam desinformação sobre as eleições no Brasil, incluindo perfis de bolsonaristas como o blogueiro Oswaldo Eustáquio, alvo também do STF (Supremo Tribunal Federal) no inquérito dos atos antidemocráticos.
O bloqueio de Carlos Bolsonaro a contas do UOL foi mencionado em levantamento da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), publicado em julho, que indica que o presidente bloqueou ao menos seis veículos de imprensa e 69 jornalistas.
Bloqueios comprometem liberdade de expressão Os ataques recorrentes aos veículos de imprensa e os entraves a informações via LAI foram alguns dos indicadores que levaram o Brasil a despencar no ranking global de liberdade de expressão, publicado mês passado pela ONG Artigo 19.
Segundo a Artigo 19, o Brasil “é a perfeita avalanche contemporânea de problemas de expressão: populismo autocrático, desinformação, desigualdade severa e controle tecnológico”.
Em outro documento também publicado este ano, a ONG alertou para as práticas de desinformação utilizadas pelo governo Bolsonaro, incluindo a privação a informações de interesse público.
O relatório da HRW de hoje também menciona decisões judiciais de outros países proibindo autoridades de bloquear pessoas em contas utilizadas para assuntos oficiais apenas por terem recebido críticas.
Fonte: Folhapress