O presidente Jair Bolsonaro pode ter feito um recuo público de suas ameaças golpistas do 7 de Setembro e afastado o risco imediato da abertura de um processo de impeachment na Câmara dos Deputados.
Mas a maioria dos brasileiros, 56% dos ouvidos pelo Datafolha, quer que o impedimento seja encaminhado. É o que o instituto aferiu nos dias 13 a 15 de setembro, quando ouviu presencialmente 3.667 pessoas em 190 cidades.
É um índice que oscila positivamente dentro da margem de erro de dois pontos do levantamento, ante os 54% que pediam o impeachment em julho.
Agora, ficou estável o número daqueles que são contra a medida (41%, ante 42% na rodada anterior). Não souberam opinar 3%.
O impeachment voltou à pauta nacional após os protestos do 7 de Setembro, quando Bolsonaro atingiu o ápice de sua campanha golpista contra as instituições, em especial o Supremo Tribunal Federal, corte que ele ameaçou devido aos processos que lá correm e podem atingir tanto o presidente como seus filhos e grupos bolsonaristas.
Bolsonaro chegou a dizer que não iria cumprir quaisquer ordens judiciais de seu desafeto Alexandre de Moraes, ministro do Supremo que relata ações acerca do bolsonarismo como o inquérito das fake news. Para 76% dos brasileiros, se fizesse isso, já mereceria a abertura de um processo de impeachment.
Alguns partidos se mexeram com a crise. O PSD da bússola da “realpolitik” brasileira Gilberto Kassab criou uma comissão para “acompanhamento do impeachment”, e o sempre dividido PSDB aprovou na sua Executiva a ida à oposição e a abertura de debate sobre o tema.
Não que o impedimento estivesse na esquina, dado que Bolsonaro seguia com apoio seguro do centrão na Câmara, na figura do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), que de cara descartou a medida em pronunciamento.
Mas a pressão, em especial pelo crescente desembarque de setores econômicos que entenderam o preço que a turbulência política cobra ao deixar o país em desgoverno e índices como a inflação ameaçando descontrole, cresceu.
Em dois dias, com a nota de recuo operada pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), a crise foi contida por ora.
Ninguém no mundo político aposta por quanto tempo, mas o impeachment se torna mais improvável à medida que o tempo passa: um processo de talvez seis meses, ele encavalaria com o início da campanha eleitoral, em uma confusão que desagrada tanto a agentes políticos como econômicos.
Para o centrão, por exemplo, interessa mais manter sua influência e controle sobre emendas. Já na esquerda, o cálculo do líder atual na disputa de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), é de deixar Bolsonaro sangrando -mesmo que o ex-presidente diga apoiar o impeachment.
A oposição à direita fracassou em fazer um ato consistente contra o presidente na esteira da crise da semana do 7 de Setembro, no dia 12, devido a erros de organização e divisões internas. O próximo protesto está a cargo da esquerda, no dia 2 de outubro.
Isso dito, a percepção popular sobre o assunto não mudou, como mostrou o Datafolha, e a tendência pró-impedimento se mantém. No começo do ano, a fotografia era inversa: 53% não queriam a medida e 42%, sim.
Desejam mais que a Câmara lance mão do expediente os mais pobres (62%), os mais jovens (67%), nordestinos (67%) e estudantes (68%). Em relação ao tamanho da amostra, o dado de renda é o mais importante, pois o segmento que ganha até 2 salários mínimos compõe 51% dos entrevistados.
Na mão contrária vêm os mais ricos (55% contra), empresários (69%) e evangélicos (53%). Aqui, o corte religioso é o de maior peso na amostra, 26% dela.
Assim como ocorre na intenção de voto, os aderentes principalmente de denominações pentecostais e neopentecostais se mostrar frustrados com Bolsonaro (41% de rejeição), mas não o suficiente para punir o presidente. Ele ainda ganha de Lula no grupo, assim como mantém o apoio contra o impedimento.