Os brasileiros gostam de achar que o seu jeito de falar é o correto, os portugueses garantem que o deles é o original e a referência do vernáculo, já os angolanos e moçambicanos, com outras dezenas de idiomas usados em seus territórios, não costumam entrar na discussão. A verdade é que a lingua portuguesa é heterogênea, diversa, com vários tipos de expressões, e tem sido cada vez mais falada ao redor do planeta para integrar os povos e tratar de negócios globais. Pouco importa a pronúncia regional. O fato é que cada vez mais gente se comunica usando “a última flor do Lácio”, como definiu o poeta Olavo Bilac.
De acordo com dados da instituição linguistica Ethnologue de 2020, trata-se da nona língua mais ouvida no mundo, com mais de 250 milhões de falantes espalhados em pelo menos 10 países e presentes em todos os continentes. Além disso, a principal novidade é que seu uso cresce aceleradamente nos Estados Unidos, na China e, em especial, na África.
O número de pessoas que falam o português avançou nos últimos dois anos. O Brasil ainda é o território onde a língua é mais usada, com cerca de 212 milhões de falantes, mas essa situação deve mudar. Estima-se que a partir de 2050 e até o fim do século, existam mais falantes do idioma na África, sobretudo devido ao encolhimento populacional brasileiro e à explosão demográfica verificada em Angola e Moçambique. No conjunto, os dois países somarão cerca de 266 milhões de habitantes em 2100, ultrapassando o Brasil, com população prevista de 200 milhões. “Os jovens angolanos e moçambicanos cada vez mais adotam o português como primeira língua. Eles estão deixando de falar idiomas originais e perceberam que aumentarão suas chances de ter uma carreira profissional no futuro”, diz Fleide Albuquerque, presidente da Sociedade Internacional de Português Lingua Estrangeira (SIPLE).
A verdade é que há interesse de vários países, em especial na Ásia, pelo português, já que é a sexta língua mais usada no mundo para se fazer negócios. A China é o país que mais investe no idioma atualmente. A principal parceira comercial do Brasil vinha usando Macau, cidade que foi domínio lusitano entre 1557 e 1999, como centro estratégico para intermediar essa aproximação entre os países lusófonos. Mas, agora, em todo o território chinês há pelo menos 55 universidades que oferecem cursos de graduação em português, que atraem mais de cinco mil alunos. Como termo de comparação, no Brasil há apenas um curso de graduação em mandarim, na USP. O plano chinês é investir na contratação de professores nativos do português que ajudem seus homens de negócios a dominar a língua, a fim de prepará-los para o mercado de trabalho no exterior e torná-los capazes de mediar planos comerciais.
Não é a toa que o volume de investimentos chineses na África cresceu mais de 20 vezes nas últimas duas décadas e, desde 2009, o país é o maior parceiro comercial do Brasil, substituindo o primado histórico das relações com os Estados Unidos. “A China está investindo na cultura e no idioma, enquanto Angola, Portugal e até mesmo o Brasil não têm ambições políticas imperialistas ou armamentistas de domínio, ou seja, esse crescimento da língua não representa perigo nenhum para o mundo”, diz Graça Riotorto, professora de linguística da Universidade de Coimbra. Os dez países com comunidades lusófonas tradicionais são Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, China, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Índia.
Além da África e da China, outro lugar onde o português tem despontado é os Estados Unidos, precisamente nas regiões de Connecticut, Massachusetts e Rhode Island, no nordeste do país. Nos três estados vive um grande número de portugueses, brasileiros e angolanos e o idioma ocupa o terceiro lugar entre os mais falados, atrás do inglês e do espanhol. Cerca de 850 mil pessoas, ou seja, 1,2% da população americana, falam o português atualmente. Existem evidências de que a língua portuguesa está pedindo passagem e se espalhando pelo mundo com naturalidade, trazendo junto com ela uma enorme carga cultural. E o mais incrível é que um idioma surgido em um país pequeno como Portugal tenha hoje esse alcance global e uma expectativa de uso tão promissora.
Fonte: IstoÉ