BAHIA POLÍTICA

Uma preocupação que ronda o governador eleito Jerônimo Rodrigues, por Raul Monteiro*

O processo de transição no plano federal e a conturbação que hordas de bolsonaristas inconformados com o resultado da eleição presidencial ainda promovem em várias partes do país, orientadas por famosos engenheiros do caos a fazer protestos estrondosos e agora até atentados para produzir medo e instabilidade, tem dado sua mãozinha ao governador eleito Jerônimo Rodrigues (PT). Ele se beneficia, principalmente, da concentração das atenções nos passos do presidente eleito, assim como também da cautela recomendável em relação ao impacto, em seu jogo na Bahia, de decisões que Lula pode adotar na montagem da equipe ministerial.

Com a vitória do PT à Presidência, pelo menos duas estrelas no Estado ascenderam sob a especulação de que podem fazer parte de time lulista na Esplanada dos Ministérios. Os nomes do senador Jaques Wagner e do governador Rui Costa aparecem com frequência como opções para integrar o futuro governo, embora a escolha de mais oito parlamentares eleitos pela Bahia para o grupo de transição esteja incentivando conjecturas sobre eventuais papéis que possam vir a desempenhar na nova administração federal. Diante de um cenário expansivo, convém, de fato, a Jerônimo aguardar os próximos movimentos para fazer suas próprias escolhas.

Ele pode vir a ser poupado de determinados esforços para montar a equipe no caso de outro aliado, furando o bloqueio representando pela dupla de caciques petistas, acabar sendo puxado para algum ministério ou algum órgão federal importante. Apesar do seu estilo reservado, do tipo de quem dá poucas pistas mesmo aos ‘de casa’, o governador eleito, segundo aliados, tem aproveitado o tempo para refletir sobre o processo eleitoral e o recado das urnas que veio junto com a própria vitória, a qual, até certo ponto, foi inesperada, e definir alguns critérios que lhe permitirão fazer as escolhas de quem pode ajudá-lo a governar a partir de janeiro.

Uma das preocupações envolve o futuro relacionamento, por exemplo, com o MDB, partido considerado chave para o sucesso da campanha petista, e seu representante mais vistoso, o vice-governador eleito Geraldo Jr., que já mandou recados de que não vai abrir mão de algum protagonismo no futuro governo. Em certo sentido, apesar das especulações de que pode deixar a legenda, o atual presidente da Câmara de Vereadores de Salvador reproduz o espírito dos controladores da sigla, os irmãos Geddel e Lúcio Vieira Lima, cujo perfil politicamente agressivo, para quem todo espaço merece ser preenchido, é conhecido de todos e, no passado, foi do amor ao ódio ao PT.

Com a campanha já iniciada, por um desses lances em que o chamado ‘destino’ colabora, o partido desgarrou-se da base de ACM Neto, que concorreu ao governo pelo União Brasil, e veio a substituir no governo, na prática, o PP, com o qual os petistas nunca tinham tido problema de convivência, até seu presidente, o vice-governador João Leão, começar a ensaiar disputar o governo. Ainda é cedo para dizer se a trinca emedebista jogará fechada com Jerônimo ou se, estrategicamente, se dividirá em busca de ampliar seus espaços na futura administração, obrigando o governador eleito a lhes dedicar mais atenção do que aos demais aliados, inclusive ao seu partido.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.