O governo Lula (PT) reagiu à declaração do governo Donald Trump sobre mobilizar uma ação militar contra o Brasil em meio ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e disse, em nota divulgada pelo Itamaraty, que condena o uso de sanções econômicas ou “ameaça de uso da força contra a democracia”.
“O governo brasileiro condena o uso de sanções econômicas ou ameaças de uso da força contra a nossa democracia”, afirma a nota. O mesmo comunicado diz que os Poderes não vão se intimidar por ataques à soberania nacional.
“O governo brasileiro repudia a tentativa de forças antidemocráticas de instrumentalizar governos estrangeiros para coagir as instituições nacionais”, diz o comunicado do governo.
“O primeiro passo para proteger a liberdade de expressão é justamente defender a democracia e respeitar a vontade popular expressa nas urnas. É esse o dever dos três Poderes da República, que não se intimidarão por qualquer forma de atentado à nossa soberania”, diz a nota divulgada pelo Itamaraty.
Nas redes sociais, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, atribuiu a manifestação a uma conspiração da família Bolsonaro contra o país. Em seu post, Gleisi disse que os Estados Unidos ameaçam invadir o Brasil para livrar Bolsonaro da cadeia.
Um ministro palaciano diz que é preciso esperar para ver o que a ameaça significa e as credenciais da porta-voz para anunciar ações bélicas do governo Trump.
No lançamento do livro “8 de janeiro: golpe derrotada, democracia preservada”, o ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) afirmou, em discurso, que o STF não se intimidará pelas ameaças dos EUA. “Pode dizer ao Trump que o STF vai decidir com soberania. Quem com porcos se junta farelos come”, disse.
Em uma rede social, o advogado-geral da União, Jorge Messias, afirmou que o “comichão neocolonialista alcança hoje [terça, 9] um grau mais baixo, culminando com a infeliz declaração da porta-voz da Casa Branca sobre o uso de poderio econômico e militar”.
“Nós, que sobrevivemos a décadas de sangrenta ditadura, sabemos valorizar melhor que ninguém o valor da liberdade de expressão”, disse Messias.
Outro ministro chamou de ridículo o argumento de desrespeito à liberdade de expressão no Brasil, lembrando que há dois dias bolsonaristas levaram às ruas uma bandeira americana em manifestações marcadas por críticas a Lula e ao Judiciário.
Outro auxiliar de Lula afirmou que, diante da gravidade da ameaça, uma manifestação do Itamaraty encorajaria parlamentares a responder à Casa Branca. Ele ressalta ainda que, no momento da ameaça, o presidente Lula estava em trânsito para Brasília, após cumprir agenda em Manaus, e ainda se manifestará sobre as declarações da porta-voz de Trump.
Sob reserva, um diplomata admitiu que já havia expectativa de manifestação dos EUA e que não se tem ideia de qual será a reação do governo Trump, marcado pela imprevisibilidade. Outro afirmou que não iria alimentar esse debate na semana do julgamento.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou nesta terça-feira (9) que o presidente Donald Trump aplicou tarifas e sanções contra o Brasil para proteger a “liberdade de expressão” e que o país não terá medo de usar o “poder econômico e militar” para defendê-la.
A declaração foi dada em resposta a uma pergunta durante entrevista coletiva. Leavitt foi questionada sobre se os Estados Unidos preveem mais sanções ao Brasil em razão do julgamento de Jair Bolsonaro no STF e também a outros países da Europa que estariam censurando a liberdade de expressão, segundo o jornalista.
A Embaixada dos Estados Unidos no Brasil republicou um vídeo com a resposta completa de Leavitt no X (ex-Twitter), mas na mensagem que acompanha o post não citou o trecho em que a porta-voz fala sobre o uso de poder militar.
Nas redes, Gleisi afirmou que “a conspiração da família Bolsonaro contra o Brasil chegou ao cúmulo hoje, com a declaração da porta-voz de Donald Trump de que os EUA podem usar até força militar contra o nosso país”. No post ela disse ainda que o mandato de Eduardo Bolsonaro (PL), que se afastou da Câmara de Deputados para articular a defesa do pai nos EUA, deveria ser cassado.
“Não bastam as tarifas contra nossas exportações, as sanções ilegais contra ministros do governo, do STF e suas famílias, agora ameaçam invadir o Brasil para livrar Jair Bolsonaro da cadeia. Isso é totalmente inadmissível. E ainda dizem que estão defendendo a ‘liberdade de expressão’. Só se for a liberdade de mentir, de coagir a Justiça e de tramar golpe de Estado; estes sim, os crimes pelos quais Bolsonaro e seus cúmplices estão sendo julgados no devido processo legal. E o filho, traidor da pátria, precisa ser cassado!”, publicou.
Na entrevista, Leavitt disse que Trump está protegendo os interesses do país no exterior e nos EUA. “Então, não tenho nenhuma ação adicional para antecipar para vocês hoje, mas posso dizer que esta é uma prioridade para a administração, e o presidente não tem medo de usar o poder econômico e o poder militar dos Estados Unidos da América para proteger a liberdade de expressão ao redor do mundo”, concluiu.
A declaração é dada no momento em que o STF julga Bolsonaro e outros sete réus acusados de uma articulação para impedir a posse de Lula na Presidência.



